Parte 2.
Parte 3.
Parte 4.
Parte 5.
Parte 6.
Parte 7 (final).
Cena de Alegria de Viver (Eliana Macedo e Augusto César Vanucci).
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Waldir Calmon em cena do filme Hoje o Galo Sou Eu.
Neusa Maria interpretando Nova Ilusão (Luiz Bittencourt e José Menezes) no filme Hoje o Galo Sou Eu.
Jackson do Pandeiro e Almira Castilho em cena do filme Cala a Boca, Etelvina;
Podemos também incluir É de Chuá, comédia carnavalesca estrelada por Ankito, direção de Victor Lima, cujo maior interesse ficou por conta de seus inúmeros números musicais, dentre eles Maria Xangai (Ibrahim Sued/Alcyr Pires Vermelho/Mário Jardim), com Agostinho dos Santos; Aula de Amor (Klécius Caldas/Armando Cavalcanti), com Bill Farr; Fanzoca do Rádio (Miguel Gustavo), com Fred e Carequinha; Chegou a Hora (Luiz Soberano/Anísio Bichara), com Carlos Augusto; Mulheres da Terceira Dúzia (João de Barro/Antônio Almeida), com Emilinha Borba; Você é Demais (Sebastião Gomes/Braga Filho), com Gilberto Alves); Não Quero Mais (Jamelão/Paulo Parafuso), com Jamelão; Madureira Chorou (Carvalhinho/Júlio Monteiro), com Joel de Almeida; Topada (Jota Júnior/Oldemar Magalhães), com Dircinha Batista, e muitas outras. A surpresa dos números musicais contidos nesse filme, todos carnavalescos, ficou a cargo da participação de Nelson Gonçalves cantando A Volta do Boêmio, talvez pelo seu imenso sucesso ao longo de todo o ano de 1957.
Cena do filme Rio Zona Norte.
"(...) O filme é construído de tal modo que fica clara a opressão do dinheiro, e, com boa vontade, o espectador talvez chegue a colocar em dúvida o ritual social. Mas isso não é muito fácil porque as personagens, principalmente o rapaz, são tratados com imensa simpatia, e, para colocar em dúvida o ritual, era necessário dar pelo menos uma olhadela um pouco crítica sobre o comportamento dos noivos. Sem esse olhar, o filme é uma quase aceitação desse modo de vida. Por isso, tem-se a impressão de que Roberto Santos parou no meio do caminho, e hoje prolongaria sem dúvida seu raciocínio muito mais longe e mais impiedosa e sarcasticamente.Finalmente, os noivos chegam atrasados à estação e não têm dinheiro para comprar outras passagens: otimistas, voltam para a cidade, vão enfrentar a vida. Nesse otimismo, há uma aceitação de não poder cumprir o ritual até o fim: devemos nos satisfazer com aquilo que é da gente mesmo..Apesar dessa reserva, O Grande Momento não só é o filme mais importante do surto de produção independente verificado em São Paulo nos anos 1957-58, como é também um marco na filmografia brasileira. Isso porque (...) O Grande Momento preocupava-se com a vida urbana, não com a intenção de apenas retratá-la, mas sim de analisá-la; porque, na cidade, não escolhia marginais, mas pessoas que representam a maioria absoluta na cidade. Porque fazia do dinheiro o motor do enredo; e finalmente porque era uma comédia, comédia triste, com momentoso graves e líricos, mas com cenas cômicas e até burlescas, próximas ao tom da chanchada. A própria estrutura do filme – mil e um obstáculos interpõem-se entre a personagem e o alvo – tem muito de comédia. Tudo isso animado por um sadio otimismo e uma ternura paternal para com a luta, os esforços desses jovens inabalavelmente decididos a casar..(...)”
Cena do filme Noite Vazia.
Cena do filme Noite Vazia.
As primeiras imagens de Estranho Encontro, sob a música grandiloqüente de Gabriel Migliori, com influências de Max Steiner, mostram um carro vindo por uma estrada escura e deserta. Um rapaz, Pedro (Mário Sérgio), a caminho da casa de campo da amante rica o dirige. A música se transforma em um jazz transmitido pelo rádio do carro. De repente, ele nota que uma garota, Júlia (Andrea Bayard), está na estrada, logo à frente dele. Ele pára o carro, sobre o qual a moça, aparentemente nervosa, se curva, semidesmaiada. Ele a coloca dentro do carro. Ela lhe suplica que saíssem do lugar o mais rápido possível. Não responde à suas indagações sobre quem era e o que fazia em lugar tão deserto. Sem alternativas, propõe-se a levá-la até a casa aonde se dirigia. Ela concorda. Chegando à casa de campo, o caseiro (Sérgio Hingst) está à porteira aguardando. Temeroso, faz com que a moça se esconda para não ser vista.
Enganando o porteiro, conseguem entrar na casa, a moça ficando no quarto, enquanto Pedro janta, tendo de escutar as lamentações do caseiro que se julga explorado pela patroa, ao mesmo tempo em que, ao ser questionado pelo rapaz, diz que não pode abandonar seu emprego por causa das dificuldades. Nota-se, desde esse momento, que o caseiro é esperto e articulado, sua figura, ao mesmo tempo humilde e ameaçadora.
Assim que chega ao quarto, a garota lhe conta que não tem para onde ir. Ela pede para permanecer ao menos até a madrugada, quando iria embora. Ele insiste em saber sua história, ao mesmo tempo em que lhe esclarece que a casa era de uma sua “prima”. Ela então lhe conta que está fugindo de um homem, Hugo (personagem interpretado por Luigi Picchi, um italiano pintor de cenários que Mario Civelli transformou num galã de grande público no filme da Multifilmes Modelo 19, de 1952, protagonizado por Miro Cerni e Ilka Soares), com quem até então se relacionara sem serem exatamente casados, um homem, a princípio bom e tolerante e que, ao longo do relacionamento, se transformara em um ser taciturno, um monstro ciumento, trazendo-a praticamente prisioneira. Indagada, conta que, moça pobre, o conhecera quando trabalhava em uma relojoaria. Simpatiza com ele, que a leva para tomar chá e lhe conta que perdera a perna em um acidente, mancando por isso. Acaba por aceitar seu pedido para morarem juntos, segundo ela por solidão e, de certa forma, por piedade. Quando muda seu comportamento, ele se compraz em contar-lhe sempre a mesma história, de como perdera sua perna, substituindo-a por uma perna mecânica. Também a considera uma moça inculta, sem educação, tentando a todo custo mudar-lhe o gosto, inclusive o musical. Ela não o suporta mais, o tic-tac de vários relógios dentro da casa a deixando neurótica. Aproveitando-se de uma ocasião que ele a convida para irem a um lago, consegue sair do carro e iniciar sua fuga. Nessa ocasião o rapaz a encontrara. Pedro lhe pergunta por que não o denunciava à polícia; ela, chorosa, diz que por medo. Ela acaba dormindo no sofá do quarto, esperando sair de manhãzinha.
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Na manhã seguinte, chegam os jornais. Pedro vê, na primeira página, o retrato da garota fugitiva, foto também vista pelo jardineiro. Ele sobe e a informa sobre o fato, ao mesmo tempo em que lhe comunica que irá à cidade por uns tempos, deixando-a nervosa e sem chão. Fica com medo. Sua angústia é visível. Escuta então uma melodia, razoavelmente bem tocada. Sai do quarto por um momento, ficando escondida, escutando o caseiro tocar. Até esboça um sorriso frente a tal paradoxo. Um caseiro tocando piano na sala da patroa. Retrocede para o quarto quando sente que ele está abandonando o piano. Logo ele sobe as escadas, dirigindo-se ao quarto onde ela se encontra. Ela se esconde dentro de um armário. Uma peça de roupa, um suéter, lhe chama a atenção. Fica desconfiado.
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O rapaz chega da cidade. Diz à garota que tentou levantar dinheiro na cidade, inutilmente. Conta-lhe, também, a verdade sobre sua situação, que a casa é, na realidade, de uma senhora com quem se relaciona. Dá-se a entender que ele é mantido financeiramente pela mulher. Após se alimentar, reclamando do tempo em que permaneceu no armário, ela dorme, acordando assustada por pesadelos. Ele entra no quarto. Beijam-se.
O novo dia surge radioso. Inesperadamente, chega a dona da casa, Vanda (Lola Brah, uma atriz nascida na Rússia, naturalizada brasileira, que se especializaria em papéis de mulheres sofisticadas, de meia idade, utilizando-se de um sotaque estrangeiro que a deixava irresistível, e que estreara no cinema brasileiro em 1953, no filme Uma Pulga na Balança, de Luciano Salce). Receoso do encontro das duas, o rapaz e a garota saem pelas portas dos fundos, dirigindo-se a um depósito de quinquilharias. Ela se mostra com medo de ficar sozinha em tal lugar. Ele lhe diz que é por pouco tempo, indo de encontro à amante. Conversam banalidades, enquanto a vitrola toca um tema de jazz.
Quando a oportunidade chega, o rapaz volta ao depósito, levando comida para a garota. É visto pelo caseiro. Quando sai do local, o caseiro vê Júlia pelas gretas. Reconhece-a de algum lugar. Sai correndo até a lata de lixo e encontra o jornal. Vê a foto. Liga os acontecimentos. Enquanto isso, os dois amantes discutem seu relacionamento. Quando ele diz que tem que ir a um enterro na cidade, a mulher desconfia de que algo está errado. Ela o acusa de estar agindo de forma estranha e de se portar friamente com ela. Ele despista, dizendo-se com problemas pessoais e financeiros, problemas de dívidas. Ela se propõe a ajudá-lo como sempre. Ele recusa. Acabam transando.
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Enquanto Vanda escuta música em seu quarto, Pedro está na parte de baixo da casa, pensando em uma maneira de resolver a situação. Ela desce. Sugere que levantem cedo para verem juntos o pôr-do-sol. No outro dia, ele se levanta primeiro e vai até a garota, que dorme após terríveis pesadelos. Logo que acorda, não encontrando o rapaz no quarto, Vanda se dirige à beira do lago. O rapaz não se encontra lá. Instintivamente, se dirige ao depósito e escuta parte da conversa do casal. Afasta-se imediatamente. O caseiro também vigia o depósito.
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O rapaz é confrontado pela amante, que o interroga, sendo acusado por ela de ficar em sua companhia por interesse; em outra seqüência, Júlia vê, aterrorizada, a figura do companheiro de quem fugia. Ele soubera de seu esconderijo através do caseiro que lhe exige dinheiro, ficando indignado quando ele preenche um cheque com a quantia. Na realidade, ele queria dinheiro vivo. Não consegue. Hugo lhe diz que veio buscá-la, que, a partir desse dia, tudo estaria mudado, que ele seria outro homem. Júlia não acredita e consegue escapulir do depósito, refugiando-se em um bambuzal. Dentro da casa as coisas se precipitam, Pedro contradizendo a amante sobre seu dinheiro, devolvendo-lhe as chaves da casa.
Chegando ao depósito, o rapaz vê que a garota não mais se encontrava lá. Enquanto isso Júlia fica encurralada por Hugo nos fundos do bambuzal. Ele lhe suplica perdão; diz-lhe que, a partir daquele momento, tudo será diferente. Ela não cede. Ele se aproxima dela com ar ameaçador. Vanda chega nesse momento, após ser informada sobre a fuga pelo caseiro. Júlia se abriga sob suas asas. Hugo conta para Vanda que a garota é deficiente mental, louca e que ele só quer seu bem. Quando Vanda não cede a seus argumentos, ele tenta agredir as duas mulheres, não tendo sido bem sucedido por causa de seu defeito físico. Sua bengala de apoio se quebra o que o deixa mais desamparado. As duas se afastam dele.
O caseiro termina por confessar à patroa que chamara o marido da fugitiva por causa de dinheiro. Vanda pega o cheque de pagamento e o rasga. Ao mesmo tempo, sabe que perdeu o rapaz para a fugitiva, dando-lhe as chaves do carro para que o casal vá embora. Enquanto os antigos amantes acertam suas últimas contas, Júlia entra no carro. Apavorada, percebe a chegada do marido, que, mais uma vez, lhe implora para não deixá-lo. Ela consegue fechar os vidros do carro, antes que ele importune dentro do carro. Ao mesmo tempo, consegue buzinar, chamando a atenção de Vanda e de Pedro. Hugo foge, mas perde o equilíbrio e cai ribanceira abaixo. Enquanto o casal o olha, ele, sem mais ânimo, se afasta mancando.
O filme termina mostrando a solidão total de Vanda, sozinha na casa. Liga o som e, enquanto escuta um tema jazístico, pega uma bebida e começa a subir as escadas rumo ao seu quarto. O jazz aumenta de tom. Vanda, nos primeiros lances da escada, se curva sobre si própria, desesperada. Deitada sobre os degraus, chora.
Além da maravilhosa trilha sonora de Gabriel Migliori, muito mais coisas chamam a atenção no filme. Khouri o dirige de maneira clássica, rebuscada, à maneira do cinema europeu e de vários diretores da extinta Vera Cruz. As interpretações, no conjunto, agradam. A fotografia de Rudolf Icsey, graças a uma iluminação perfeita, impressiona pela beleza. Estranho Encontro tornou-se um clássico do estilo excessivo de Walter Hugo Khouri, talvez um dos motivos de ser até hoje um filme que agrada aos cinéfilos. Não envelheceu com o tempo, o que é o maior elogio que se pode fazer a este filme.
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Obviamente, pela sua temática, Estranho Encontro nunca agradou à crítica de esquerda. Aliás, Khouri sempre foi um desafeto da crítica esquerdista, que sempre o considerou um cineasta alienado, que sempre fechou os olhos frente às mazelas da sociedade, edulcorando seus personagens burgueses. Para a crítica mais conservadora e direitista, entretanto, ele era o máximo como cineasta no Brasil, sendo idolatrado por eles, como sempre foi o caso de Rubem Biáfora (que, alguns anos depois – 1967/1968 –, tentaria imitar seu estilo no malfadado O Quarto (filme interpretado pelo caseiro de Estranho Encontro, Sérgio Hingst), Moniz Viana, Ely Azeredo e B. J. Duarte. Todavia, não há como negar que, por mais paradoxal que seja, para quase todos eles, Nelson e Khoury, naquele momento, eram os dois únicos cineastas, mesmo sendo de mentalidade tão opostas, que representavam a esperança de um cinema brasileiro que poderia ultrapassar, para sempre aquele mundo “indigente” das chanchadas, que eles não viam a hora de serem banidas das telas para sempre.
Lançado com pompas e circunstâncias em junho de 58, com refletores iluminando a fachada do cine Ipiranga, banda de músicas e contando com a presença de várias estrelas de televisão e do filme, Estranho Encontro fez bastante sucesso de público e de crítica, terminando por ser um dos mais premiados filmes do diretor, ganhando o prêmio Saci desse ano como Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Música, Melhor Ator Coadjuvante (Sérgio Hingst) e Melhor Atriz Coadjuvante (Lola Brah). Ganhou também a maioria dos prêmios Cidade de São Paulo, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Música, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Atriz Coadjuvante. Era a confirmação do talento de Khouri e o início de uma das mais prolíficas e consolidadas carreiras cinematográficas brasileiras de todos os tempos.
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