
Getúlio Vargas nem ao menos sabia de tal festa e nem que sua filha e mulher dela participariam; muito menos tinha conhecimento de que e
la seria patrocinada pela senhora sua esposa, Darcy Vargas, que já estava há algum tempo na capital francesa. Nervoso, Getúlio pede ao jornalista que localize mulher e filha em Paris, para transmitir-lhes a ordem de não comparecerem ao regabofe parisiense. Tudo inútil. Dona Darcy teria batido o pé e, com a filha a tiracolo, comparece, trajadas a rigor, à noitada célebre por antecedência.

Mas, afinal de contas, que evento foi esse para despertar tal celeuma?
Estamos falando do que foi considerada a mais extraordinária e exótica festa acontecida em Paris desde o pós-guerra, tendo como cenário os fabulosos jardins do Castelo de Coberville, onde foram consumidas pelos convidados 1.400 garrafas de uísque, 2.000 de champanhe, 100 garrafas de pinga das boas, vindas diretamente do Brasil para o evento e todos os tipos de bebidas imagináveis.
A festa teria
por objetivo e motivação original a organização de um desfile de modas em que a estrela seria o algodão brasileiro, mais precisamente os tecidos confeccionados pela fábrica de tecidos Bangu, cujo dono e co-patrocinador do regabofe era Joaquim Guilherme da Silveira, que, segundo se dizia, na verdade, foi o real e solitário financiador da festança parisiense. Porém Chatô, há muito, sonhava em promover uma demonstração da cultura popular brasileira para o consumo dos europeus. Conforme suas própria palavras, seu sonho seria

“apresentar à alta sociedade do velho mundo o Brasil verdadeiro, o Brasil que somos nós: um Brasil de mestiços autênticos, mulatos inzoneiros, índios e negros a promover a vasta experiência de cruzamentos que empreendemos no trópico, em vez do falsificado Brasil branco, de catálogos de grã-finos que, ‘parvenus’ e ‘snobs’, tentam impingir filauciosamente ao mundo.".***
A chance veio ao seu encontro. Jacques Fath, passando por grande popularidade na França como modista da alta sociedade, procura o recém-senador para propor-lhe a realização do evento em seu castelo em Coberville, nas imediações de Paris. Os Diários Associados entrariam com a organização do baile, sendo a data estipulada para o dia 3 de agosto de 1952.
Jacques Fath, chamado pela imprensa de “rei da alta costura internacional”, trabalha duro durante 50 dias para que nada desse errado no que foi cognominada pela imprensa de “Carnaval do Rio”. Um avião (ou dois, segundo alguns) lotado de colunáveis parte do Rio de Janeiro rumo a Paris especialmente para participar da festa. Sobrenomes ilustres estão entre os presentes, destacando-se os Bianchi, os Ouro Preto, os Monteiro, os Souza Campos, os Morganti e muitos, muitos mais.
Desfile de Jacques Fath.
A festança começa exatamente às 21 horas, com grande queima de fogos, iluminando os jardins e os cerca de 3.000 convidados que abarrotam toda a área. A partir daí, ficção e fantasia se misturam, de acordo com os interesses de cada u


Após o
desfile propriamente dito, Severino Araújo e sua Orquestra Tabajara iniciam o show artístico, tocando todos os ritmos brasileiros em moda, além de acompanhar a performan
ce dos cantores brasileiros que também se apresentam, Elisete Cardoso, Ademilde Fonseca e Jamelão; e Zé Gonzaga, cantor nordestino muito em voga, empolga o distinto público presente com uma seqüência de ritmos nordestinos, cururu, baião, frevo, xaxado e outros. O baile somente acaba às oito horas da manhã seguinte, ainda apinhado de gente.


Homenagem a Jamelão.
Orquestra Tabajara de Severino Araújo.
Elisete Cardoso interpretando Bom é Querer (década de 50).
Ademilde Fonseca interpretando Pedacinhos do Céu (1951).


Orson Welles em O Terceiro Homem (música-tema de Anton Karas).
Trailer do filme E o Vento Levou, estrelado por Clark Gable.
Ginger Rogers dançando com Fred Astaire em O Picolino.
Danny Kaye (Lullaby in Ragtime).
Paulette Godard em Tempos Modernos.
Tributo a Gene Tierney.
Dona Darcy Vargas e Alzirinha, provavelmente prevendo o temporal que se avizinhava, comportaram-se mais do que discretamente, permanecendo sentadas à beira da pista durante quase toda a festa. Quando algum convidado chegava até sua mesa, cumprimentavam-nos com elegância e discrição, evitando, ao máximo, porém, chamar a atenção.
Mas, de nada adiantou; em editorial na primeira página denominado “AFRONTA”, ao lado das notícias da festa em que se destacam termos como “uma completa loucura”, “dança nupcial
dos índios do Mato Grosso”, “orgia” etc., o jornal Tribuna da Imprensa (leia-se Carlos Lacerda) trata o evento em termos que não deixavam dúvidas sobre seu intento:
Mas, de nada adiantou; em editorial na primeira página denominado “AFRONTA”, ao lado das notícias da festa em que se destacam termos como “uma completa loucura”, “dança nupcial

“Cada qual desce do bonde como quer. Mas, realmente, os telegramas que hoje descrevem a farra em Paris, com a indulgente presença da mulher do presidente da República e de sua encantadora filha, ultrapassam todas as medidas e constituem uma afronta às dificuldades com que luta o povo francês e à desgraça que aflige o povo brasileiro.
‘O pai dos pobres’ não é capaz de explicar com que dólares foram custeados esses aviões especiais, essas cabaças e inúbias, esses pássaros tropicais, essa revoada de aventureiros e aventureiras que transportaram a Paris para participar da dispendiosíssima bagunça no castelo de um novo-rico. Quem forneceu o câmbio? Foi câmbio oficial ou câmbio negro? Isso é que merece um inquérito. Vejamos se alguém tem coragem de perguntar, frontalmente, ao chefe do governo, quem autorizou a exportação desses dólares.”
O presidente Getúlio Vargas, mais uma vez, fora atingido no fígado pelo terrível oponente, prognosticando um combate mortal a partir deste acontecimento.
3 comentários:
VELA SUPOSTAS FOTOS COMPROMETEDORAS DA ERA VARGAS
http:numerologiadesencantada.blogspot.com
Bela narrativa!
Bela narrativa!
Postar um comentário