O ano de 1951 foi notável em termos de produção musical brasileira de qualidade. Sucessos inesquecíveis são gravados nesse ano; também surgem astros de primeira grandeza que encantam crítica e público, alterando, para melhor, o panorama musical brasileiro, a essa altura, atacada definitivamente por um inimigo poderoso e avassalador, a música norte-americana.
.
.
Diana Pequeno interpretando Casinha Pequenina.
Orlando Silva interpretando Maringá.
Francisco Alves interpretando Deus lhe Pague.
Luiz Gonzaga interpretando Sabiá.
Luiz Gonzaga interpretando Boiadeiro.
Pena Branca e Xavantinho interpretando De Papo pro Ar.
Carmélia Alves interpretando Cabeça Inchada.
Delicado (Waldir Azevedo/Ari Vieira), inspiradíssima gravação de Waldir Azevedo, foi, certamente, o maior sucesso de 1951, tornando o artista o mais famoso instrumentista em terras brasileiras.
.
O carioca Waldir Azevedo (1923 - 1980) desde pequeno esteve envolvido com música, ganhando seu primeiro instrumento, uma flauta transversal, aos 7 anos. Com apenas 10 anos, apresenta-se em público pela primeira vez, interpretando Trem Blindado, de Braguinha. Em 1942, quando ainda tocava violão, foi vencedor, com a nota máxima, de dois concursos de calouros, um na Rádio Cruzeiro do Sul e outro na Rádio Guanabara, interpretando o chorinho Camburá, de Pascoal de Barros
A partir daí, sua carreira vai num crescendo, até que, em 1945, agora tocando cavaquinho, assume a liderança do conjunto regional de Dilermando Reis, um dos maiores violonistas brasileiros de todos os tempos, passando a atuar na PRA-3, Rádio Clube do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em substituição ao regional de Benedito Lacerda, ocasião em que adere, definitivamente, ao cavaquinho.
.
Grupo Sururu na Roda interpretando Carioquinha.
Waldir Azevedo interpretando Brasileirinho.
Em 1950, voltou a gravar outro 78 rpm, contendo Cinco Malucos, de sua autoria, e O que é que Há, composição de Dilermano Reis. Nesse mesmo ano lança, também solando ao cavaquinho, os choros Quitandinha, dele e de Salvador Miceli e Vai por Mim, de Francisco Sá e Risadinha do Pandeiro. Gravaria também, ainda nesse mesmo ano, o baião Delicado.
.
Delicado, a princípio nem seria gravado; Waldir estava encontrando dificuldades para compor seu próximo disco em 78 rpm, cujo lado A seria o choro Vê Se Gostas. Chiquinho do Acordeom, que logo ficaria conhecido como o autor de São Paulo Quatrocentão, um dobrado que também se tornaria campeão de vendagens, um imenso sucesso popular, sugere-lhe gravar o baião mostrado a ele por Waldir pouco tempo antes. Chiquinho, inclusive, o havia batizado com o nome de Delicado. Era o imprevisto, mais uma vez, surgindo com seus desígnios. Em janeiro/51, Delicado já está em primeiro lugar na paradas de sucessos da Revista do Rádio, permanecendo entre as músicas mais vendidas durante quase todo o ano. Um estouro que ninguém esperava. Em setembro/51, já havia vendido mais de 400.000 discos (Revista do Rádio n.º 104), tornando-se, assim, um fenômeno de popularidade. A partir de março, Waldir emplaca novo sucesso de sua autoria, Pedacinhos do Céu, que também se torna um baita êxito, um sucesso eterno.
Waldir Azevedo interpretando Delicado.
Quinteto Brasília interpretando Pedacinhos do Céu.
.
Quando Cabeça Inchada se tornou sucesso nacional, Carmélia Alves (1023 - 2012), já está estabelecida como uma das mais conhecidas cantoras brasileiras; nascida no Rio de Janeiro em fevereiro de 1929, e de origem suburbana (Bangu), Carmélia, desde menina entra em contato com os ritmos nordestinos em reuniões que ocorriam em sua casa. Aos 12 anos, inicia sua carreira artística, participando de programas de calouros na Rádio Nacional e em diversos outros, onde, como quase todas as cantoras novatas, imitava Carmem Miranda. Com voz poderosa e afinada, logo é contratada pela Rádio Mayrink Veiga, começando também a atuar na noite, exatamente no berço da burguesia, no Copacabana Pálace.
Em 1943, grava seu primeiro disco em 78 rpm (financiado por ela própria, segundo alguns) na RCA Victor, trazendo, no lado A, o choro Quem Dorme no Ponto é Chofer,
do formidável sambista Assis Valente, e, no lado B, o samba Deixei de Sofrer, de Dino e Popeye do Pandeiro (integrante do regional de Benedito Lacerda). Após passar uma longa temporada em São Paulo, volta para o Rio de Janeiro, atuando novamente no Copacabana Palace, de onde agora era transmitido o programa Ritmos da Panair pela Rádio Nacional, comandado por Murilo Neri, o que permite que o grande púbico tome conhecimento da cantora. Isso em 1948.
.
do formidável sambista Assis Valente, e, no lado B, o samba Deixei de Sofrer, de Dino e Popeye do Pandeiro (integrante do regional de Benedito Lacerda). Após passar uma longa temporada em São Paulo, volta para o Rio de Janeiro, atuando novamente no Copacabana Palace, de onde agora era transmitido o programa Ritmos da Panair pela Rádio Nacional, comandado por Murilo Neri, o que permite que o grande púbico tome conhecimento da cantora. Isso em 1948.
.
Carmélia Alves interpretando Trepa no Coqueiro.
Interpretando o baião com sotaque sulista, Carmélia obtém enorme êxito neste ano de 1951, cantando Cabeça Inchada, da lavra de seu compositor favorito, Hervê Cordovil, que, imediatamente, cai nas graças da população. Era a consagração da cantora:
.
"Eu tô doente, morena
Doente eu tô, morena
Cabeça inchada, morena
Tô e tô e tô.
.
Ai! Morena
Ai! Morena
Moreninha meu amor
Você diz que me namora morena
É mentira, morena
E agora, morena
Agora não.
Adelaide Chiozzo (8.5.1931), grande rival de Carmélia Alves, inclusive gravando as mesmas músicas, o que resultou em uma grande rivalidade entre as duas, que teve efeito na não eleição de Adelaide ao título de Rainha do Rádio (favoritíssima) nesse ano, uma vez que, Carmélia, vendo a inevitável eleição da rival, retira seus votos e os despeja em uma cantora sem chance alguma, Véria Lúcia, que, mesmo sendo uma cantora desconhecida das massas, se elegeu ao ambicionado título, o que nada lhe trouxe de benesses, já que continuou a ser uma cantora conhecida somente por um público mais elitizado, advindo das classes médias e médias altas. Adelaide, nesse ano, no auge de sua popularidade, fruto de suas atuações na Rádio Nacional e na Atlântida, de onde é uma das principais estrelas, é o que se poderia denominar uma artista de múltiplos talentos; instrumentista, cantora e atriz, aos 8 anos começa a estudar acordeom, o que lhe permite, aos 15 anos, participar do programa de Renato Murce Papel Carbono, na Rádio Clube do Brasil, imitando o grande sanfoneiro da época, Pedro Raimundo.
.
Sua segura performance e sua beleza encantaram Vitor Costa, que a contrata por três meses para formar dupla com seu irmão, Afonso Chiozzo, que a acompanhara no programa. Foi, também, aos 15 anos, em 1946, já uma lindíssima garota, que estréia no cinema, na comédia Segura Esta Mulher, de Watson Macedo, onde acompanha o "cowboy" Bob Nelson na música O Boi Barnabé (Afonso Simão/Bob Nelson). Seu sucesso lhe permite participar novamente das comédias musicais Este Mundo é um Pandeiro (1947), do mesmo Watson Macedo, de É Com Este Que Eu Vou, de José Carlos Burle (1948), Carnaval no Fogo, de Watson Macedo e de Aviso aos Navegantes (51), do mesmo Watson Macedo.
.
.
Sua gravação de Beijinho Doce, de Nhô Pai (autor de outro sucesso, Ciriema, em dupla com o acordeonista Mário Zan), uma música acaipirada, daquelas bem identificadas com o interior de São Paulo, cantada no filme Aviso aos Navegantes, agrada o Brasil inteiro, razão pela qual se tornou um sucesso imediato:
"Que beijinho doce
Que ele tem
Depois que beijei ele
Nunca mais amei ninguém.
Que beijinho doce
Foi ele quem trouxe
De longe pra mim
Um abraço apertado
Suspiro dobrado
Que amor sem fim.
Coração reclama
Quando a gente ama
Se estou junto dele
Sem dar um beijinho
Coração reclama."
Adelaide Chiozzo e Eliana Macedo interpretando Beijinho Doce (Nhô Pai).
Com sua beleza de menina do interior, com o sucesso de Beijinho Doce e com o espetacular êxito do filme Aviso aos Navegantes, Adelaide Chiozzo atinge o estrelato, tornando-se, imediatamente, a nova namoradinha do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário