13.9.06

O CARNAVAL DO FRACASSO

Um fato digno de nota nesse carnaval de 1958 foi o fracasso das músicas de todos – todos mesmo – os grandes ídolos populares, nenhum deles conseguindo emplacar um sucesso digno de nota, ou deixar sua marca na história dos carnavais brasileiros. Assunto é que não faltou. Muitas críticas nas letras. Falou-se de tudo, de Brasília, da gripe asiática, de amores e desamores, da lambreta, do Sputnik, de mortes, de pobreza, do velho Rio de Janeiro e da destruição dos patrimônios da cidade por causa do “progresso”. Claro que também não faltaram as músicas de duplo sentido e nostálgicas, ou seja, a temática foi vasta e variegada. Enfim, muita música de péssima qualidade, pouquíssimos destaques dignos de nota. Não foi à toa que a música de Ataulfo Alves Vai, Mas Vai Mesmo, gravada no meio do ano de 1957, se tornou o grande sucesso desse carnaval na interpretação do próprio compositor, acompanhado por suas pastoras.

No que concerne aos sambas, o destaque ficou com Madureira Chorou, dos compositores Carvalhinho e Júlio Monteiro, cuja letra pranteava a morte de Zaquia Jorge, a “Estrela de Madureira”, acontecida no ano anterior. Lançada pelo veterano Joel de Almeida, o grande destaque do carnaval de 1956 com a marchinha Quem Sabe, Sabe, apesar de ser um samba triste e bastante mórbido, foi o sucesso do ano:
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“Madureira chorou
Madureira chorou de dor
Quando a voz do destino
Obedecendo o divino
A sua estrela chamou.
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Gente modesta
Gente boa do subúrbio
Que só comete distúrbio
Se alguém lhe menospreza.
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Aquela gente
Que mora na zona norte
Até hoje chora a morte
Da estrela do lugar.”
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Outro veterano cantor, Orlando Silva, também participou desse carnaval com o samba Se eu Morresse Amanhã, da dupla Raul Sampaio e Ivo Santos.

A essa altura, uma pálida lembrança do cantor que encantava os corações dos brasileiros, Orlando Silva (1915 – 1978), o “Cantor das Multidões”, intérprete de inesquecíveis sucessos como Rosa (Pixinguinha), Lábios Que eu Beijei (J. Cascata/Leonel Azevedo), Carinhoso (Pixinguinha/João de Barro), Alegria (Assis Valente/Durval Maia), Sertaneja (Renê Bittencourt), A Jardineira (Benedito Lacerda/Humberto Porto), Abre a Janela (Alberto Roberti/Arlindo Marques Júnior), Cidade Brinquedo ( Silvino Neto e Plínio Bretas), Nada Além (Mário Lago/Custódio Mesquita), Meu Consolo é Você (Nássara/Roberto Martins). Lero-Lero (Custódio Mesquita/Frazão, um de seus últimos sucessos na gravadora Victor) e incontáveis outros, ainda no início dos anos 40, entrara em ruidosa decadência, em virtude de uma vida desregrada, seu envolvimento com drogas, especialmente a cocaína e a morfina, e devido a uma vida amorosa conturbada com uma bela cantora e radioatriz de segundo time, Zezé Fonseca (1915 - 1962), que o levou a um sério desequilíbrio emocional. Não obstante, ao longo dos anos, ainda alcançar certo reconhecimento com algumas poucas músicas, nunca mais conseguiu obter um êxito digno de nota, sempre mudando de gravadoras em busca do sucesso de outrora.

Tetê Espíndola interpretando Sertaneja.

Orlando Silva interpretando Rosa.

Maria Rita e Marcelo Camelo interpretando Carinhoso.



Ouça Orlando Silva interpretando Cidade Brinquedo.

Odete Lara interpretando Nada Além no filme A Estrela Sobe.

Orlando Silva interpretando Lero-Lero.

Brigando com a direção da RCA Victor, em 1942, Orlando Silva entra para o cast da Odeon, lançando, nesse ano, a marcha Alvorada (Frazão/Dunga) e o samba Inimigo do Samba (Ataulfo Alves/Jorge de Castro). Nenhuma das duas obteve repercussão, o mesmo acontecendo com praticamente todas que lançou a partir dessa data, mesmo gravando composições da nata dos compositores brasileiros, como Será Verdade (Claudionor Cruz/Pedro Caetano, em 1943), Brasa (Lupicínio Rodrigues/Felisberto Martins, em 1945, ano que teve rescindido seu contrato com a Rádio Nacional, fato que muito prejudicou sua carreira), Tudo é Possível (Cícero Nunes/Aldo Cabral, também em 1945), Dissimulada (Laurindo de Almeida/Bororó, em 1946), Saudade (Dorival Caymmi/Fernando Lobo, em 1947), Teu Amor e o Meu (José Maria de Abreu, em 1948), Voltaste (Newton Teixeira, também de 1948) e inúmeras outras sem a mínima repercussão.
Na década de 50, em que imperava o baião, o samba-canção, o bolero e, mais no final, o rock and roll, seu sucesso diminuiu mais ainda. Nessa época, trocou inúmeras vezes de gravadora, teve que amargar o dissabor de gravar compositores desconhecidos e do segundo escalão, além de regravar sucessos antigos de outros cantores. São desse tempo Senhor, me Ajude (1951), dos desconhecidos Luiz Soberano e Valdemar Silva, Não me Importa Que a Tábua Rache (1951), de Liz Monteiro e J. Piedade, Tem Dó (1952), de Manezinho Araújo, a regravação da valsa Glória (1952), de Bonfíglio de Oliveira e Branca M. Coelho, a regravação de Adeus (1952), de autoria de Silvino Neto, grande sucesso de Francisco Alves em outros tempos, Meu Lampião (1953), samba-canção de Alcyr Pires Vermelho e Alberto Ribeiro, regravando, também, em 1953, várias músicas de
Ary Barroso, Risque, sucesso de Linda Batista, Terra Seca, Inquietação e Faceira, gravações antigas de Sílvio Caldas.

Paulo Capuano interpretando
Adeus (Cinco Letras que Choram).

Daniela Mercury interpretando Risque.



Trio Popular Clube do Choro interpretando Inquietação.



Roberta Sá interpretando
Faceira.

E as coisas continuaram dessa forma: muitas gravações, poucos resultados em termos de sucesso; em 1955, ele grava as marchas Dona Light, de Pereira Matos, Hélio Malta e Bola Sete e Marcha das Flores, de Haroldo Lobo, Rômulo Paes e Henrique de Almeida, e os sambas Herança, de Newton Teixeira e Brasinha e Jogado Fora, de Manezinho Araújo, David Raw e E. Mendonça. Regravaria ainda os sambas Feitiçaria e Promessa e a Valsa do Meu Subúrbio, todas de Custódio Mesquita e Evaldo Rui. No mesmo ano, regrava os sambas-canções Caco Velho e Tu, de Ary Barroso, o fox-canção Mulher e a valsa Velho Realejo ambas de Custódio Mesquita e Sadi Cabral. Ainda em 1955, ele retorna para a gravadora Odeon, lançando pelo novo selo a valsa Quero Beijar-te Ainda (Paulo Tapajós), o samba-choro Não Foi o Tempo (J. Cascata e Leonel Azevedo), a canção Cristo Redentor (Silvino Neto), a valsa-canção Soror Maria, também de Silvino Neto, parceria com Carlos Morais, e várias outras músicas sem repercussão.

Emílio Santiago interpretando Mulher.



Cláudia Moreno e Noite Ilustrada interpretando
Velho Realejo.

Uma surpresa aguardaria os fãs do cantor no ano de 1956: o compositor Júlio Nagib, nesse ano, fez uma versão de um dos grandes sucessos norte-americanos do ano anterior, o rock-balada Only You, de Ande Rand e Buck Ram, gravada pelo conjunto The Platters, dando-lhe o nome de Só Você. Orlando Silva a grava, na esteira do estouro do rock and roll, mas, a música soou risível na voz do cantor romântico, sendo solenemente desprezada pelos brasileiros, apesar de que, nesse tempo, já começava a consumir, sofregamente, as diversas versões feitas a partir das gravações originais norte-americanas.

Somente em 1957 Orlando Silva lançaria seu primeiro Long Playing; a Odeon coloca no mercado o vinil Serenata com Orlando Silva, trazendo oito composições de Freire Júnior, compositor e empresário de teatro de revista recentemente falecido: Olhos Japoneses, Malandrinha, Revendo o Passado, Santa, Deusa e Pálida Morena, além de mais duas composições, À Beira Mar e Luar de Paquetá, essas compostas por Freire Júnior em parceria com Hermes Fontes. Trazer para o presente um compositor totalmente fora de moda nada acrescentou à carreira de Orlando Silva, que continuou seu calvário rumo ao ostracismo.

Documentário em homenagem a Orlando Silva:

Parte 1.



Parte 2.


Eu Chorarei Amanhã, pelo baixo nível da maioria das composições, fez razoável sucesso, um dos três destaques desse carnaval de 1958:

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"Eu chorarei amanhã
Hoje eu não posso chorar.

Um dia pra gente sofrer
O outro pra desabafar
Eu chorarei amanhã
Hoje o que eu quero é sambar.”

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O Rio de Janeiro continuava a perder inúmeras construções antigas para dar lugar a prédios de escritórios e de moradia, num rápido processo de descaracterização de suas belezas originais. Na década de 50, existia um lindo prédio na Avenida Rio Branco, o Hotel Avenida (220 quartos), de propriedade da Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico - CFCJB, com 3.200 metros de área total, 60 metros de frente, 22,85 metros de altura geral sobre o solo e 34,30 metros de altura máxima. Em seu interior, em uma galeria, funcionou a talvez mais conhecida das estações de bondes da Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico. Era a famosa Galeria Cruzeiro, assim chamada devido à existência de duas passagens em cruz. Essa estação oferecia embarque coberto e confortável e acesso a diversos bares e restaurantes que também funcionavam no térreo do Hotel Avenida. Para os carnavalescos, Galeria Cruzeiro tinha um significado especial: foi um dos principais cenários do carnaval carioca, concentrando os foliões que chegavam nos bondes lotados e ruidosos, muitos saindo diretamente dos bondes para as mesas de mármore dos bares. O Hotel Avenida foi demolido em 1957 para dar lugar ao Edifício Avenida Central. Carvalhinho e Paulo Gracindo registraram, para a posteridade, esse momento histórico; fizeram uma homenagem à Galeria Cruzeiro e à sua importância para os carnavalescos de todos os tempos, lançando, para esse carnaval, o samba Derrubaram a Galeria, que, na voz de Carlos Nobre, foi um dos destaques do ano:
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“Derrubaram a galeria, meu irmão
Onde é que eu vou sambar
Cada martelada na parede
Era um lamento
De um boêmio que se ouvia
Ai!, senhor prefeito
Por que deixou
Derrubar a galeria?
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Embaixo do relógio eu esperava
O meu amor que demorava e não chegava
Enquanto isso, um bate-papo animado
Com a espuma de um chope bem gelado.”

Muitos cariocas não se conformavam com a construção de Brasília, já que o Rio de Janeiro sofreria um processo de esvaziamento e seu status de capital do país. Billy Blanco, um dos precursores da bossa nova, autor de Mocinho Bonito, Estatutos de Gafieira, Teresa da Praia (em parceria com Tom Jobim) e de outros grandes êxitos, estava entre esses inconformados. Lança, então, Não Vou Pra Brasília, considerada subversiva pelo governo JK, que não permitia sua veiculação pelas emissoras oficiais, a Rádio Nacional, a emissora líder em audiência, bem entendido. Lançado pelo conjunto Os Cariocas, o samba, na realidade, gravado bem antes do carnaval, foi também bem recebido pelos foliões, principalmente pelos antimudancistas:

“Eu não sou índio nem nada
Não tenho orelha furada
Nem uso argola
dependurada no nariz

Não uso tanga de pena
E a minha pele é morena
Do sol da praia onde nasci
E me criei feliz.

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Não vou, não vou pra Brasília
Nem eu, nem minha família
Mesmo que seja pra ficar cheio de grana
A vida não se compara
Mesmo difícil e tão cara
Quero ser pobre
Sem deixar Copacabana.”

João Dias, cantor que tinha uma voz parecida com a de Francisco Alves, sendo, constantemento acusado de ser um mero imitador do Rei da Voz, também se destacou com uma batucada de J. Audi, Engole ele, Paletó (também gravada pelo Trio de Ouro), que, inclusive, foi incluída na chanchada carnavalesca de Alfredo Palácios Vou te Contá, recheada de números musicais com Carmen Costa, Dalva de Oliveira, Virgínia Lane, Isaurinha Garcia, Nilton Paz, Risadinha e outros, última produção da Companhia Cinematográfica Maristela:

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“Engole ele
Engole ele, paletó
Engole ele, paletó
Que o dono dele era maior.
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Paletó de gente pobre
Não tem tamanho nem cor
No verão é guarda-chuva
No inverno é cobertor.

Gente rica quando morre
Papai do céu quem levou
Gente pobre quando morre
Foi bebida quem matou.”
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Com relação às marchinhas, a indigência foi mesmo geral; salvou-se muito pouca música, permitindo que o grande sucesso do ano fosse a marcha Fanzoca do Rádio, de Miguel Gustavo, interpretada pelo palhaço Carequinha. A letra da música fazia uma severa crítica às garotas que freqüentavam os auditórios das rádios, o da Rádio Nacional basicamente, àquela altura sofrendo feroz perseguição por parte da crítica “bem pensante” que as chamava de “ridículas” e considerava insuportável sua histeria perante seus ídolos, basicamente Emilinha Borba, Marlene e Caubi Peixoto. Nessa época, a própria Rádio Nacional estava preocupada com a imagem de seu auditório. Primeiramente, aumentou bastante o preço do ingresso para esses programas; depois, separou com uma plataforma de vidro os ídolos mais importantes do público, para que os gritos e apupos dos fãs não chegassem até os delicados ouvidos do público ouvinte. O crítico Nestor de Hollanda foi o criador da expressão racista “Macacas de Auditório”, referindo-se a elas, por serem, na maioria, negras. Miguel Gustavo, nessa marchinha, reforça o preconceito, o que não a impediu que fosse a mais cantada e executada em todo o país:
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“Ela é fã da Emilinha
Não sai do César de Alencar
Grita o nome do Caubi
E depois de desmaiar
Pega a Revista do Rádio

E começa a se abanar.
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É uma faixa aqui, outra faixa ali
O dia inteirinho ela não faz nada
Enquanto isso na minha casa
Ninguém arranja uma empregada.”


Carequinha interpretando Fanzoca do Rádio.


Por falar nisso, Emilinha Borba, que ganhara o carnaval do ano anterior, foi brindada, nesse mês do carnaval, com a capa e com uma grande report
agem na revista O Cruzeiro (22.02.1958), raramente oferecida aos cantores nacionais; chamada de “Sua Majestade” pela revista, a reportagem também dizia:


“A célebre Emilinha Borba reina, quase absoluta, em popularidade, entre tantas majestades e soberanas glamorosas, no encantado ‘império do samba’ e da marcha do rádio brasileiro (...) Emilinha é, no entanto, um ídolo discutido. Quem gosta de ‘Emilinha-É-A-Maior’ gosta. Quem não gosta, desgosta (...)”.
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Nesse carnaval, a cantora fez um sucesso apenas razoável com a marchinha de João de Barro Corre, Corre, Lambretinha, que, mais tarde, no carnaval baiano de 2002, foi resgatada com êxito pelo grupo Timbalada:


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“O vovô ia a cavalo
Para visitar vovó
O papai de bicicleta
Pra ver mamãe, ora vejam só!
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Hoje tudo está mudado
Mudou tudo, sim senhor
E eu tenho uma lambreta
Para ver o meu amor.
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Corre, corre, lambretinha
Pela estrada além
Corre, corre, lambretinha
Que eu vou ver meu bem.”

Carlinhos Brown interpretando Corre, Corre, Lambretinha.

A candente questão da mudança da nova capital, Brasília, transtornando, como já dissemos, a vida de milhares de famílias de funcionário públicos que teriam que se mudar para a nova capital, foi o tema de outra marchinha nesse carnaval, dessa feita, favoravelmente. De autoria de Sebastião Gomes, Átila Bezerra e de Valdir Ribeiro, e apesar da pobreza de sua letra, Vamos Pra Brasília, gravação de Jorge Veiga, foi muito cantada pelo povão:

“Está na hora Emília
É agora Emília
Deixa o Rio
Vem comigo pra Brasília.
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A idéia não é má
Nasceu de JK
Então vamos pra lá
Que vai ser um chuá.”
Outra composição muito cantada pelos foliões e bastante executada pelas rádios em todo o país, feita com duplo sentido, própria para ser deturpada na hora de ser cantada pelos foliões, Mamãe eu Levei Bomba, de autoria de Jota Júnior e Oldemar Magalhães, lançada por Dircinha Batista, fez relativo sucesso exatamente por isso:
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“Mamãe eu levei bomba
Mamãe eu levei bomba
Pela primeira vez
Filhinha, filhinha
Filhinha querida
Foi francês?

Foi português?
Não sei, mamãe, não sei
A prova foi tão dura, mamãe
Que eu naufraguei!
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Agora, não adianta chorar
O remédio é estudar.”

Em 1957, a gripe asiática, advinda de Cingapura, e que matara milhares de pessoas no mundo inteiro, chegava ao Brasil, tornando-se tema nesse carnaval de 1958. Miguel Gustavo (1922 - 1972), famoso por ser um dos melhores compositores de jingles de propaganda do país, e Altamiro Carrilho, o gênio da flauta, não perderam tempo e compuseram O Preço da Gripe que, gravada por Carequinha, também foi muito cantada:
“Quanta gente se arrumou com a minha gripe
Um conto de réis por um limão
E com o preço dos remédios nessa altura
Eu fiquei bom, mas quase morri da cura.
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Deixei de espirrar, a gripe teve fim
Mas meu bolso passou a espirrar por mim.”

César de Alencar também emplacou uma marchinha nesse carnaval, principalmente porque ela foi executada à exaustão em seu programa de auditório, líder de audiência, aos sábados, na Rádio Nacional. Marcha da Fofoca, de Wilson Batista (a essa altura, em plena decadência, longe do sucesso de outrora) e Jorge de Castro, por sua letra fácil de ser decorada, ficou na cabeça de todo mundo:
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“Fala, fala, fala, fofoqueira
Fala, fala, faladeira
Venha conhecer minha maloca

Deixa de fofoca.

Intriga é contra a moralFofoca eu sou tão legalA minha orelha quer se refrescarMe dá uma colher de chá."
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Para finalizar, podemos também destacar uma marcha-rancho – Os Rouxinóis – de autoria de Lamartine Babo que, mesmo sendo a mais bonita do ano, não conseguiu o sucesso merecido, talvez por sua letra muito extensa e razoavelmente
difícil, muito antiquada mesmo, não muito apropriada para ser decorada pelos foliões. Parecia música composta nos anos trinta. A gravação ficou a cargo dos Rouxinóis de Paquetá:


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“Os rouxinóis
Entre as flores
Procuram amores...
É lindo o cântico das aves
As melodias se renovam tão suaves.
Salve os rouxinóis...
Surgem orquestrais
Nos arrebóis
Sustenidos
São feridos
E se ouve à meia voz
Os bemóis
Porque os rouxinóis
Foram buscar amor-perfeito
E no canteiro já desfeito da amizade
Só encontraram saudade.


Sem sonhos os rouxinóis
Se vêem a sós, tristonhos
E se consolam com sutis cigarras
Cigarras sutis, cada qual mais feliz.
.
Pois cantaram, cantaram, cantaram
Depois se desencantaram
Cantar até morrer
É o seu infinito prazer.


Então nos arrebóis
Os rouxinóis
Silentes, descrentes
De seus amores
Pelas lindas flores...
Nesta canção,
pensando bem
O amor dos rouxinóis
É o nosso amor também.”

5 comentários:

Anônimo disse...

Em 1957, eu ainda pré-adolescente, ouvia e via nos salões do Rio de Janeiro, carnavalesco cantando repetidas vezes a música Fanzoca do Rádio, de Miguel Gustavo, interpretada pelo palácio Carequinha. Foi um sucesso.
Homero Guião fbarao@nitnet.com.br biógrafo oficial do Palhaço Carequinha. "O Circo do Carequinha".//*

Anônimo disse...

Cheguei no seu blog agora, encaminhado pelo Google. Aqui encontrei a música que minha avó cantarolou por toda esta tarde.
@andersonmoura

"Embaixo do relógio eu esperava
O meu amor que demorava e não chegava
Enquanto isso, um bate-papo animado
Com a espuma de um chope bem gelado"

Raimundo Balby disse...

Incrível, fantástico e extraordinário trabalho de pesquisa.

Francisco Sobreira disse...

Um pequeno reparo no seu ótimo texto:o samba na voz de Orlando se intitula Eu Chorarei Amanhã, e não Se eu Morresse Amanhã.

Década de 50 disse...

Amigo Francisco, obrigado pelo reparo e espero que, caso você ache mais alguma inconsistência, favor me avisar novamente.

Zé Fialho.