O espetacular sucesso de Dalva de Oliveira em 1950 só poderia levá-la a um caminho: a Rádio Nacional; apesar de todos os problemas conjugais, os filhos internados em um colégio por ordens superiores e a constante boataria sobre sua vida pecaminosa, cheia de amores proibidos, a cantora, mesmo amedrontada com os poderosos fã-clubes de Emilinha e Marlene, que faziam da Rádio Nacional seu ponto de encontro, assina com a PRE 8, já cotada para ser a candidata oficial da emissora para o concurso que elegeria a Rainha do Rádio de 1951, após um intervalo de um ano. Segundo os organizadores, o concurso voltaria com tudo, e a Rádio Nacional iria lançar todo o seu poder de fogo para eleger Dalva de qualquer maneira.
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O medo de Dalva, na verdade, era totalmente infundado; dos fãs de Marlene, não havia necessidade de receios, porquanto a ainda Rainha do Rádio era sua amiga desde os tempos do Cassino da Urca na década de 40; segundo, o problema dos fãs de Emilinha era Marlene e seus seguidores, motivo pelo qual a nova contratada é recebida com festas e mimos por todos. Também, logo, ela própria teria seus fã-clubes, uma vez que sua popularidade crescia a olhos vistos e os fãs organizados não demorariam a aparecer.
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Dalva de Oliveira interpretando Errei Sim.
Dalva de Oliveira, a essa altura, já podia viver como estrela; compra uma mansão espetacular em Jacarepaguá, com o quintal abarrotado de animais, alguns exóticos (araras, papagaios, macacos), onde ela recebe seus amigos mais chegados com suculentas macarronadas e apetitosas feijoadas, tudo saboreado à beira de sua piscina.
"Quiseste ofuscar minha fama
E até jogar-me na lama
Só porque vivo a brilhar.
Sim, mostraste ser invejoso
Viraste até mentiroso
Só para caluniar.
Deixa a calúnia de lado
Se de fato és poeta
Deixa a calúnia de lado
Que a mim não afeta.
Se me ofendes
Tu serás o ofendido
Pois quem com ferro fere
Com ferro será ferido."
Dalva de Oliveira interpretando Calúnia.
Obviamente, havia algo de intencional nessas pelejas, habilmente manipuladas pela indústria cultural, com o intuito de ganhar mais dinheiro. Assim, quando o Trio de Ouro (ainda sem Lourdinha Bitencourt, então mulher de Nelson Gonçalves) lançou Vingança (Lupicínio Rodrigues), grande sucesso de Linda Batista, que parecia (mas não era) feito de encomenda para responder à acusação de suposto caluniador, o público comprador de discos não manifestou maior interesse, demonstrando que já se cansara de tanta lavagem de roupa suja. O sucesso de ambas as músicas foi apenas razoável.
“Não falem dessa mulher perto de mimNão falem pra não lembrar minha dorJá fui moço, já gozei a mocidadeSe me lembro dela me dá saudadePor ela vivo aos trancos e barrancosRespeitem ao menos meus cabelos brancos.Ninguém viveu a vida que eu viviNinguém sofreu na vida o que eu sofriAs lágrimas sentidas, os meus sorrisos francosRefletem-se hoje em dia em meus cabelos brancosE agora em homenagem ao meu fimNão falem dessa mulher perto de mim.”
Quatro Ases e Um Coringa interpretando Cabelos Brancos.
Mas as coisas não pararam por aí; Herivelto também relança, na voz de Francisco Alves, uma de suas mais bonitas canções, Caminhemos, cuja letra, na cabeça dos fãs, cabia direitinho na briga do famoso casal:
“Não, eu não posso lembrar que te ameiNão, eu preciso esquecer que sofriFaça de conta que o tempo passouE que tudo entre nós terminouE que a vida não continuou pra nós doisCaminhemos talvez nos vejamos depois.Vida comprida, estrada alongadaParto à procura de alguém, à procura de nadaVou indo, caminhando sem saber onde chegarTalvez que na volta, te encontre no mesmo lugar.”
Francisco Alves interpretando Caminhemos.
Dalva, que parecia gostar do jogo, logo lança pela Odeon a música de Vicente Paiva e Jayme Redondo Ave Maria, onde, além de pedir as bênçãos, de forma inusitada, para as “cascatas e as borboletas”, roga também “por nós, os pecadores”. Como ela já havia confessado, anteriormente, que tinha errado, (“Errei sim, manchei o seu nome...”), e nesta se considerava “pecadora”, a imaginação do público não deixava sombra para quaisquer dúvidas. Ela realmente era uma “despudorada”, a “dama do abajur lilás”. A mídia adorava expor essas facetas de Dalva, explorando, avidamente, todos os aspectos da vida particular da estrela.
E para piorar as coisas, problemas na vida particular da cantora continuaram sendo expostos pela imprensa. No mês de abril, por exemplo, aturdidos, seus fãs e o Brasil inteiro ficaram sabendo que ela fora presa dirigindo sem carteira e, mais grave ainda, que tentara subornar o guarda que a flagrou. Conforme reportagem da Revista do Rádio (nº 83, 04 de abril de 1951), a cantora do momento estava visivelmente embriagada, mas logo fora liberada. Casos como esse serviam para manchar sobremaneira a imagem de Dalva, mas, pelo visto, ela estava pouco se importando.
Ave Maria fez bastante sucesso e se tornou, a partir dessa data, um dos carros-chefe de Dalva de Oliveira:
“Ave MariaDos seus andores,Rogai por nósOs pecadores.
Abençoai estas terras morenas,Seus rios, seus camposE as noites serenas,Abençoai as cascatasE as borboletas que enfeitam as matas.
Ave Maria,Cremos em vós,Virgem MariaRogai por nós.
Ouvi as preces, murmúrios de luzQue aos céus ascendem,E o vento conduz, conduz a vós,Virgem MariaRogai por nós”.
Dalva de Oliveira interpretando Ave Maria no Morro.
Enquanto isso, as coisas entre Dalva e seu ex ainda continuavam fervendo; trabalhando com Walter Pinto no espetáculo Noites Cariocas, absoluto sucesso de público, Dalva se vê frente a frente com David Nasser que, naquela noite, fora assisti-la, juntamente com Herivelto Martins, não se sabendo por que motivo, e resolvera cumprimentá-la no camarim. Dalva desprezava o panfletário jornalista, que, algum tempo atrás, no auge da briga com Herivelto, escrevera que, apesar de admirar a cantora, sua vida particular seria um caso de polícia, “um atentado ao pudor”. A estrela não pensa duas vezes; enche de sopapos o temido jornalista e o expulsa de perto dela, acusando-o de se meter em sua vida particular. Após os empurrões e palavrões, Dalva se sente vingada e mais poderosa do que nunca.
Marilena Alves (o quê terá acontecido com essa artista?), da Rádio Globo, amparada por poderoso patrocinador, era tida como a provável ganhadora do certame, saindo na frente e ali permanecendo até quase o final do concurso. Só que, como quase sempre acontece no "show business", faltando poucos minutos para o encerramento da votação, misterioso cheque de um também misterioso admirador da cantora surge de repente e coloca Dalva em primeiro lugar. Desta forma, com 311.553 votos, contra 232.553 dados a Marilena Alves, a Estrela Dalva termina por se eleger Rainha do Rádio, o ápice da glória para todas as cantoras do Brasil.
Era o máximo. Depois disso, somente as estrelas.
Show em comemoração dos 100 anos de Dalva de Oliveira.
Show em comemoração dos 100 anos de Dalva de Oliveira.
6 comentários:
gente nessa época era bom demais meu deus eu acho que vivi nesse tempo porque é uma época que eu adoro pesquisar , ler,pôxa eu acho interessantíssimo essas atitudes delas , acredito eu que essas cantoras devíam ser tidas como mulheres defamadas pois tão novas já vivíam em bares , festas e rádios e pelo que vejo namoravam muito cedo pois casavam muito novas e esse tipo de atitulde era mau visto nessa época. A maioria das cantoras eram de classes baixas será ? Então acho eu que as familías ricas da época não apoiavam essas atitudes peço que o autor do site tire minha dúvida .
Boa noite amigos!
Gostaria de paranizar este blog incrivel.
Realmente resgata a história da musica brasileira.
Meu caro anonimo. A coisa era assim mesmo. Havia muito preconceito nos inicio dos anos 1950. A alta sociedade não tolerava artistas e jogadores de futebol no sio de suas familias. Até que um dia uma moça filha de um fazendeiro, se enamorou do artista de cinema Helio Souto e com ele se casou. dai para frente nudou um pouco, mas a hipocrisia ainda continuou por um bom tempo.
Estou emocionada por ter descoberto este blog tão especial, afinal ouvi muitas vezes minha mãe (SAFIRA que na época foi a princesa do Rádio junto com DALVA DE OLIVAIRA)contar estas histórias maravilhosas... Que saudade!!!
Parabéns ao autor do blog!
Maria Guilhermina Costa Acioli.
Achei fantástica a idéia deste blog, apesar de jovem curto muito esta época, os artistas, suas carreiras e o fato de terem se tornado inesquecíveis. Para Guilhermina, filha da cantora SAFIRA, deve ter sido um verdadeiro privilégio poder ter curtido essas histórias mais de perto. Parabéns ao blog, por proporcionar essas informações!
Parabens! o blog é maravilhoso tem uma incrivel riqueza de detalhes, as fotos são lindas.Gosto muito da Dalva de Oliveira, me apaixonei pela sua historia é linda! Susy Sousa-Recife-pe.
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