
Ângela Maria interpretando Vida de Bailarina.
Filha de pastor protestante e criada sob rígidos preceitos morais, Abelim Maria da Cunha, desde criança, teve contato com a música,
cantando em coros de igrejas ao lado dos irmãos. Também, para auxiliar a família, desde menina começa a trabalhar, terminando por se tornar operária tecelã, não deixando de sonhar com o rádio, uma idéia fixa em sua cabeça, apesar de saber das dificuldades de seguir carreira devido aos impedimentos familiares. Só que o canto da sereia clamava por ela, e Abelim iniciou a mesma caminhada de nove entre dez candidatas ao mundo artístico, os programas de calouros, uma febre naquele momento. Apresenta-se no “Pescando Estrelas”, de Arnaldo Amaral (Rádio Clube do Brasil), no “A Hora do Pato”, de Jorge Curi (Rádio Nacional), no “Ary Barroso” (Rádio Tupi) e no “Trem da Alegria”, de Iara Sales, Lamartine Babo e Héber de Bôscoli, na Rádio Nacional, ocasião em que começa a se apresentar com o nome de Ângela Maria para não ser descoberta pelos pais. Só que, pela voz impressionante que tinha, começou a ganhar quase todos os programas de que participava, fazendo com que suas oportunidades nesses programas rareassem, já que não tinha concorrentes à sua altura. Isso por volta de 1947, época em que trabalhava como inspetora de lâmpadas em uma fábrica da General Electric.


Em uma noite especial, foi ouvida
pelos compositores Erasmo Silva e Jaime Moreira filho, que, impressionados com sua voz, a apresentam a Gilberto Martins, então diretor da Rádio Mayrink Veiga. Após uma audição, é contratada, cantando músicas dos compositores Othon Russo e Ciro Monteiro, os dois a ajudando a construir um repertório próprio. Até 1951, tenta consolidar seu nome, tornando-se uma estrelinha do mundo artístico. Nesse ano, grava seu primeiro disco pela gravadora RCA Victor, escolhendo as músicas Sou Feliz (Augusto Mesquita e Ari Monteiro) e Quando Alguém Vai Embora (Ciro Monteiro e Dias Cruz), que tornam seu nome mais conhecido pelos radio-ouvintes.

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E
m 1952, acontece seu estouro, quando sua gravação de Não Tenho Você (Paulo Marques e Ari Monteiro), seu segundo disco, invade as rádios brasileiras, alcançando o topo das paradas em meados do ano. A partir daí, inicia uma escalada sem paralelo no mundo artístico, tornando-se a nova coqueluche do Brasil. De roldão, em 1953, coloca entre as mais vendidas e executadas no Brasil Fósforo Queimado (Paulo Meneses, Milton Legey e Roberto Lamego), Nem Eu (Dorival Caymmi) e Orgulho (Valdir Rocha e Nelson Wadekind), além de participar do filme de Alex Viany Rua Sem Sol, e de ser lançada por Carlos Machado em luxuoso show na Boate Casablanca chamado “Coisas e Graças da Bahia”, em que era focalizada a obra de Dorival Caymmi.

Ângela Maria e Alcione interpretando Fósforo Queimado.
Ângela Maria interpretando Nem Eu.
Ângela Maria interpretando Orgulho.

Agora, em 1954, torna-se definitivamente uma estrela de primeira grandeza ao colocar mais três músicas entre as mais vendidas e executadas no país - Vida de Bailarina (Américo Seixas e Chocolate), Encantamento (Othon Russo e Nazareno de Brito) e Recusa (Herivelto Martins) - com destaque para a primeira, que disseca, de forma amarga e sem concessão, a vida das dançarinas de dancings, que horrorizava quem descerrasse a cortina de suas vidas. Foi um dos maiores sucessos da cantora e uma canção-símbolo de sua carreira:
"Quem descerrar a cortina
Da vida da bailarina
Há de ver cheio de horror
Que no fundo do seu peito
Existe um sonho desfeito
Ou a desgraça de um amor.
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Os que compram o desejo
Pagando o amor a varejo
Vão falando sem saber
Que ela é forçada a enganar
Não vivendo pra dançar
Mas dançando pra viver.
.
Obrigada pelo ofício
A bailar dentro do vício
Como lírio em lamaçal
É uma sereia vadia
Prepara em noites de orgia
O seu drama passional.
.
Fingindo sempre que gosta
De ficar a noite exposta
Sem escolher o seu par
Vive uma vida de louca
Com um sorriso na boca
E uma lágrima no olhar."
Ângela Maria interpretando Vida de Bailarina.

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O que caracteriza e chama a atenção nas paradas de sucessos de 19

"Aquele disco Oh!, da Columbia, continua encabeçando as paradas, apesar de enjoado como ele só. Já se vendeu dele mais de 50.000 cópias (...) Enquanto isso, nossa música e nossos intérpretes andam por aí, abandonados. E o dinheiro que deveria ficar por aqui mesmo, vai todinho para os bolsos já estufados do pessoal de fora."
Pee Wee Junt interpretando Oh!.
Neurastênico, um fox-trot, é outra esquisitice que se tornou coqueluche nas horas dançantes de todo o Brasil e um dos discos mais vendidos do ano. De autoria de Betinh

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Betinho e seu conjunto interpretando Neurastênico.
Dean Martin interpretando That's Amore.
Só que, não só dessas esquisitices viveu a música popular nesse ano: também se destacam Rio Antigo (Altamiro Carrilho/Augusto Mesquita, com Altamiro Carrilho; Quase (Mirabeau/Jorge Gonçalves), música que consolidou a carreira de Carmen Costa como a única estrela negra do Brasil; Menino de Braçanã (Luís Vieira/Arnaldo Passos), com Luís Vieira (também com Ivon Curi); Carlos Gardel (Herivelto Martins/David Nasser), com Nelson Gonçalves; Valsa de Uma Cidade (Ismael Neto/Antônio Maria), com Lúcio Alves e diversos outros; e Teresa da Praia (Antônio Carlos Jobim/BillyBlanco), interpretada, conjuntamente, por Lúcio Alves e Dick Farney, os dois “queridinhos” da alta classe média carioca.
Ivon Curi interpretando Menino de Braçanã.
Altamiro Carrilho e conjunto interpretando Rio Antigo.
Carmen Costa interpretando Quase.
Nelson Gonçalves interpretando Carlos Gardel.
Marion Duarte interpetando Valsa de uma Cidade.
Dick Farney e Lúcio Alves interpretando Teresa da Praia.
Lúcio Alves (1927 - 1993), mineiro de Cataguases, nesse ano de 1954, rivalizava com Dick Farney tanto na maneira de cantar quanto na escolha do repertório, mais sofisticado, do tipo que a classe média urbana adorava, basicamente, no início, o samba-canção, migrando, mais tarde, como muitos cantores especializados nesse ritmo, para a bossa nova e similares.
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Muito jovem (sete anos), Lúcio mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, já com algum aprendizado no violão, influenciado pelo pai, maestro da banda musical da cidade mineira. Como Orlando Silva, com sua voz de veludo, era o ídolo de quase todo o mundo, Lúcio logo se sentiu atraído por seu repertório. Foi assim que, com nove anos, ele inicia sua carreira de cantor, apresentando-se no programa radiofônico de Barbosa Júnior, exatamente com um sucesso de Orlando, Juramento Falso (música gravada em 1937, ora apresentada pelos historiadores da música popular brasileira como sendo de autoria de Pedro Caetano, ora como sendo da dupla J. Cascata e Leonel Azevedo). Ele ainda participaria de outro programa de Barbosa Júnior apresentado na rádio Mayrink Veiga – Picolino –, paralelamente trabalhando até em uma radionovela infantil apresentada na Rádio Nacional, Aladim e a Lâmpada Maravilhosa.
Muito jovem (sete anos), Lúcio mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, já com algum aprendizado no violão, influenciado pelo pai, maestro da banda musical da cidade mineira. Como Orlando Silva, com sua voz de veludo, era o ídolo de quase todo o mundo, Lúcio logo se sentiu atraído por seu repertório. Foi assim que, com nove anos, ele inicia sua carreira de cantor, apresentando-se no programa radiofônico de Barbosa Júnior, exatamente com um sucesso de Orlando, Juramento Falso (música gravada em 1937, ora apresentada pelos historiadores da música popular brasileira como sendo de autoria de Pedro Caetano, ora como sendo da dupla J. Cascata e Leonel Azevedo). Ele ainda participaria de outro programa de Barbosa Júnior apresentado na rádio Mayrink Veiga – Picolino –, paralelamente trabalhando até em uma radionovela infantil apresentada na Rádio Nacional, Aladim e a Lâmpada Maravilhosa.
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Aos 14 anos d
e idade, em 1941, Lúcio iniciaria sua carreira musical, aproveitando-se de seus dotes musicais para formar o grupo vocal e instrumental Namorados da Lua. Pela experiência, se tornou o crooner, o violonista e o arranjador da banda. Dentro de pouco tempo, o grupo apresentava-se em cassinos (Copacabana e Atlântico), e em uma façanha digna de nota, ainda no início da carreira, vence o concurso de calouros no programa de Ary Barr
oso, apresentado na Rádio Tupi do Rio de Janeiro, vindo a seguir para o grupo, outro feito, o de ganhar o concurso carnavalesco oficial do Teatro República com a marcha Nós, os Carecas (Arlindo Marques e Roberto Roberti), gravada, nesse ano de 41, pelos Anjos do Inferno. Em 1942, Os Namorados da Lua gravam seu primeiro 78 rpm pelo selo RCA Victor, trazendo duas músicas de Assis Valente, no lado A, Vestidinho de Iaiá e, no lado B, Té Logo, Sinhá.


Anjo dos inferno interpretando Nós, os Carecas.

Lisa Ono interpretando Eu Quero um Samba.
Até 1948, o Grupo lançaria diversos 78 rpm, com destaques para as músicas Feitiço da Vila (Vadico/Noel Rosa, 1946),

Isaurinha Garcia interpretando De Conversa em Conversa.
Iniciando sua carreira solo, Lúcio lança neste ano (1948), pelo selo Continental, o bolero Solidão (Tres Palabras), original de Osvaldo Farres, em versão de Aloysio de Oliveira, incluída no filme de Walt Disney Música Maestro. Pouco depois, nesse mesmo ano, lança o 78 rpm com duas composições de Luís Bittencourt e Benny Woldorff, Aquelas Palavras e Seja Feliz... Adeus.
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Acontece que, neste mesmo ano, é convidado para integrar os Anjos do Inferno, com o qual saiu em turnê por diversos países, Cuba, México e Estados Unidos, onde se apresentaram com o nome de “Hell's Angels” nas boates novaiorquinas como Reuben Bleu e Blue Angel. Após quase um ano, o conjunto retorna ao Brasil, Lúcio voltando a sua carreira solo.
Omara Portuondo interpretando Tres Palabras.
Interessante é o fato de que Lúcio Alves é identificado pela crítica mais elitizada como um cantor com repert

São os preconceitos da vida.
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Após sua volta, em 1949, Lúcio lança, em 78 rpm, o bolero, de sua
autoria, Brumas, com certo destaque, e Nunca Mais, um samba de Dorival Caymmi, o início de uma série de gravações ao longo dos anos, dentre as quais podemos destacar Na Paz do Senhor (José Maria de Abreu e Luiz Peixoto, 1950), o samba-canção Amargura (Alberto Ribeiro e Radamés Gnatalli, 1950), Toureiro Sou Eu (Paulo Soledade e Fernando Lobo, 1951), Sábado em Copacabana (Carlos Guinle e Dorival Caymmi, 1951), Rugas (Newton Teixeira e David Nasser, 1952), Os Beijos Dela (Lupicínio Rodrigues, 1953) e Buenos Aires, um “samba-tango” de sua autoria (1954)
Lúcio Alves interpretando Brumas.

Lúcio Alves interpretando Brumas.
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“Oh, Dick!
Fala, Lúcio! Arranjei novo amor no Leblon
Que corpo bonito
Que pele morena
Que amor de pequena
Amar é tão bom, tão bom!
Oh, Lúcio!
Ela tem o nariz levantado
Os olhos verdinhos, bastante puxado
Cabelo castanho
E uma pinta do lado?
É a minha Tereza da praia
Se ela é tua, é minha também!
O verão passou todo comigo
Mas o inverno, pergunta com quem?
Então vamos
A Tereza na praia deixar
Aos beijos do sol
E abraços do mar.
Tereza da praia
Não é de ninguém
Não pode ser minha
Nem tua também
Tereza da praia
Não é de ninguém!”
Lúcio Alves e Dick Farney interpretando Teresa da Praia.
***
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e branco/É encarnado, preto e branco/ É encarnado e preto"); Forró em Limoeiro ("Eu fui pra Limoeiro/E gostei do forró de lá"), também de Edgar Ferreira; e Mulher do Anibal ("Que briga é aquela/Que tem acolá/É a mulher do Aníbal/Com o Zé do Angá"), de Genival Macedo e Nestor de Paula.
Jackson do pandeiro interpretando Forró em Limoeiro.
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E para coroar esse ano de inegável êxito para Jackson, a Columbia lança seu primeiro LP intitulado “Sua Majestade – O Rei do Ritmo”, onde ele navega com naturalidade por diversos ritmos nordestinos, o rojão (Forró em Caruaru, de Zé Dantas, Cabo Tenório, de Rosil Cavalcanti, 1 X 1, de Edgar Ferreira, O Crime Não Compensa, de Genival Macedo e N. De Paula), o coco alagoano (Sebastiana, de Rosil Cavalcanti, Cremilda, de Edgar Ferreira, A
Jackson do pandeiro interpretando Forró em Limoeiro.
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E para coroar esse ano de inegável êxito para Jackson, a Columbia lança seu primeiro LP intitulado “Sua Majestade – O Rei do Ritmo”, onde ele navega com naturalidade por diversos ritmos nordestinos, o rojão (Forró em Caruaru, de Zé Dantas, Cabo Tenório, de Rosil Cavalcanti, 1 X 1, de Edgar Ferreira, O Crime Não Compensa, de Genival Macedo e N. De Paula), o coco alagoano (Sebastiana, de Rosil Cavalcanti, Cremilda, de Edgar Ferreira, A

Jackson do Pandeiro interpretando Sebastiana.
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Jackson do Pandeiro e João do Vale interpretando O Canto da Ema.
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Edith Piaf interpretando Sous le Ciel de Paris.
2 comentários:
se alguem poder me deixar uma lista com as dez melhores musicas de forró da decada de 50 eu agradeceria muinto por favor!
Parabéns pelo blog, estou lendo há horas, é viciante...
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