27.8.06

NASCE UMA ESTRELA

Coroando uma carreira relâmpago, após alcançar o primeiro lugar das paradas de sucessos já em seu segundo lançamento fonográfico, com a música Não Tenho Você (Paulo Marques/Ari Monteiro), Ângela Maria (1929 - 2018) alcança o estrelato nesse ano de 1954, ao colocar três músicas na boca do povo, Vida de Bailarina (Chocolate/Américo Seixas), Recusa (Herivelto Martins), Encantamento (Othon Russo/Nazareno de Brito) e se eleger Rainha do Rádio com a maior votação já alcançada por qualquer cantora nesse concurso (1.464.996 votos), mais do dobro da votação de Emilinha Borba na edição anterior, em que a mais famosa cantora do Brasil conseguira 691.000 votos, mesmo sendo o recorde da disputa até então.

Ângela Maria interpretando Vida de Bailarina.



Quando Ângela Maria começou efetivamente a brilhar no cenário artístico nacional, as coisas pareciam acomodadas no sistema de estrelato: Emilinha Borba continuava no topo da fama, acabando de deixar o título de Rainha do Rádio e recebendo de todo o Brasil, nesse ano de 1954, em torno de 24.000 cartas, uma quantidade espantosa até nesses tempos globais. Marlene continuava sua saga de ser a sombra de Emilinha, dominando também os auditórios. Linda Batista entrava definitivamente no ostracismo, apesar da vã tentativa da indústria cultural de fomentar entre ela e a nova estrela, Dalva de Oliveira – ainda a maior vendedora de discos do país –, uma briga nos moldes existentes entre Emilinha e Marlene. Elisete Cardoso investia em carreira própria; contratada da Rádio Tupi, é o grande destaque nos mais luxuosos shows noturnos do Rio de Janeiro, estreando carreira na Boate Casablanca, onde participa da revista Feitiço da Vila (ao lado de Grande Otelo, Blecaute, Silvio Caldas e Jardel Filho), de Paulo Soledade e Carlos Machado, o primeiro de uma série. Tal show, que fez nesse ano brilhante carreira em São Paulo, para onde fora após encerrar carreira no Rio, permite à cantora abrir mais um campo de trabalho, ao ser contratada para apresentações exclusivas nas Rádio e TV Record. Das novatas, os destaques são Nora Ney, que obtivera inúmeros êxitos no ano findo, sendo a cantora mais comentada do Brasil; e Dóris Monteiro, caminhando célere para também ser estrela em futuro próximo. As demais, aí incluídas Dircinha Batista, Aracy de Almeida, Zezé Gonzaga, Ademilde Fonseca, Heleninha Costa, Carminha Mascarenhas, Violeta Cavalcanti, Rosita Gonzalez, Eladir Porto, Adelaide Chiozzo, Carmen Costa, Vera Lúcia, Rogéria, Violeta Cavalcanti, Carmélia Alves e poucas outras, ou estavam em franco processo de decadência, ou naquele ponto em que a carreira estaciona, sem aquele fato marcante, um grande sucesso, que as fizessem se destacar no cenário musical nacional.

Filha de pastor protestante e criada sob rígidos preceitos morais, Abelim Maria da Cunha, desde criança, teve contato com a música, cantando em coros de igrejas ao lado dos irmãos. Também, para auxiliar a família, desde menina começa a trabalhar, terminando por se tornar operária tecelã, não deixando de sonhar com o rádio, uma idéia fixa em sua cabeça, apesar de saber das dificuldades de seguir carreira devido aos impedimentos familiares. Só que o canto da sereia clamava por ela, e Abelim iniciou a mesma caminhada de nove entre dez candidatas ao mundo artístico, os programas de calouros, uma febre naquele momento. Apresenta-se no “Pescando Estrelas”, de Arnaldo Amaral (Rádio Clube do Brasil), no “A Hora do Pato”, de Jorge Curi (Rádio Nacional), no “Ary Barroso” (Rádio Tupi) e no “Trem da Alegria”, de Iara Sales, Lamartine Babo e Héber de Bôscoli, na Rádio Nacional, ocasião em que começa a se apresentar com o nome de Ângela Maria para não ser descoberta pelos pais. Só que, pela voz impressionante que tinha, começou a ganhar quase todos os programas de que participava, fazendo com que suas oportunidades nesses programas rareassem, já que não tinha concorrentes à sua altura. Isso por volta de 1947, época em que trabalhava como inspetora de lâmpadas em uma fábrica da General Electric.


Decidida a encarar esse novo mundo que se lhe apresentava, Ângela abandona a casa dos pais, indo morar com uma irmã em Bonsucesso. Logo consegue o posto de crooner no dancing Avenida, onde também cantara, tempos atrás, Elisete Cardoso. À essa época, seu repertório e sua voz sofrem claras influências de Dalva de Oliveira, sucesso absoluto nas noites cariocas.

Em uma noite especial, foi ouvida pelos compositores Erasmo Silva e Jaime Moreira filho, que, impressionados com sua voz, a apresentam a Gilberto Martins, então diretor da Rádio Mayrink Veiga. Após uma audição, é contratada, cantando músicas dos compositores Othon Russo e Ciro Monteiro, os dois a ajudando a construir um repertório próprio. Até 1951, tenta consolidar seu nome, tornando-se uma estrelinha do mundo artístico. Nesse ano, grava seu primeiro disco pela gravadora RCA Victor, escolhendo as músicas Sou Feliz (Augusto Mesquita e Ari Monteiro) e Quando Alguém Vai Embora (Ciro Monteiro e Dias Cruz), que tornam seu nome mais conhecido pelos radio-ouvintes.
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Em 1952, acontece seu estouro, quando sua gravação de Não Tenho Você (Paulo Marques e Ari Monteiro), seu segundo disco, invade as rádios brasileiras, alcançando o topo das paradas em meados do ano. A partir daí, inicia uma escalada sem paralelo no mundo artístico, tornando-se a nova coqueluche do Brasil. De roldão, em 1953, coloca entre as mais vendidas e executadas no Brasil Fósforo Queimado (Paulo Meneses, Milton Legey e Roberto Lamego), Nem Eu (Dorival Caymmi) e Orgulho (Valdir Rocha e Nelson Wadekind), além de participar do filme de Alex Viany Rua Sem Sol, e de ser lançada por Carlos Machado em luxuoso show na Boate Casablanca chamado “Coisas e Graças da Bahia, em que era focalizada a obra de Dorival Caymmi.

Ângela Maria e Alcione interpretando Fósforo Queimado.


 

Ângela Maria interpretando Nem Eu.
















Ângela Maria interpretando Orgulho.

















Agora, em 1954, torna-se definitivamente uma estrela de primeira grandeza ao colocar mais três músicas entre as mais vendidas e executadas no país - Vida de Bailarina (Américo Seixas e Chocolate), Encantamento (Othon Russo e Nazareno de Brito) e Recusa (Herivelto Martins) - com destaque para a primeira, que disseca, de forma amarga e sem concessão, a vida das dançarinas de dancings, que horrorizava quem descerrasse a cortina de suas vidas. Foi um dos maiores sucessos da cantora e uma canção-símbolo de sua carreira:


"Quem descerrar a cortina
Da vida da bailarina
Há de ver cheio de horror
Que no fundo do seu peito
Existe um sonho desfeito
Ou a desgraça de um amor.

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Os que compram o desejo
Pagando o amor a varejo
Vão falando sem saber
Que ela é forçada a enganar
Não vivendo pra dançar
Mas dançando pra viver.

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Obrigada pelo ofício
A bailar dentro do vício
Como lírio em lamaçal
É uma sereia vadia
Prepara em noites de orgia
O seu drama passional.

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Fingindo sempre que gosta
De ficar a noite exposta
Sem escolher o seu par
Vive uma vida de louca
Com um sorriso na boca
E uma lágrima no olhar."

Ângela Maria interpretando Vida de Bailarina.













Ângela Maria se tornou um caso raro na música popular brasileira; foi a única cantora a passar incólume por todos os modismos e tendência musicais ao longo das décadas de 50, 60, 70, 80, 90, entrando no novo milênio,  assistindo à ascensão e queda do bolero (queda um modo de falar, já que esse ritmo nunca saiu do coração dos brasileiros) e do samba-canção, atravessando a bossa nova e o rock and roll, a jovem guarda e os festivais de música popular brasileira, terminando por se tornar a maior vendedora de discos do Brasil de todos os tempos, além de ser a recordista nacional em gravações de Long Playings.
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O que caracteriza e chama a atenção nas paradas de sucessos de 1954 é a quantidade de músicas esquisitas, bizarras mesmo, algumas com intérpretes mais bizarros ainda, que delas participaram ao longo do ano. Dentre essas, podemos citar: Piano Maluco, de autores desconhecidos, que foi interpretada por alguém cognominado Um Pau Dágua (?!); uma outra recebeu o nome de Oh! (Gay/Johnson), com interpretação de Ken Griffin, sobre quem a Revista do Rádio teceu as seguintes considerações:


"Aquele disco Oh!, da Columbia, continua encabeçando as paradas, apesar de enjoado como ele só. Já se vendeu dele mais de 50.000 cópias (...) Enquanto isso, nossa música e nossos intérpretes andam por aí, abandonados. E o dinheiro que deveria ficar por aqui mesmo, vai todinho para os bolsos já estufados do pessoal de fora."

Pee Wee Junt interpretando Oh!.
















Neurastênico, um fox-trot, é outra esquisitice que se tornou coqueluche nas horas dançantes de todo o Brasil e um dos discos mais vendidos do ano. De autoria de Betinho, um respeitado guitarrista que tocava em um conjunto de bailes em São Paulo, e Nazareno de Brito, a música, cantada pelo próprio autor, Betinho, que chama a atenção por sua letra mais do que extravagante, tornando o termo "neurastênico" conhecido em todo o país:("Brr...rrum!/Mas que nervoso estou/Brr...rrum!/Sou neurastênico/ Brr...rrum!/Preciso me tratar/Se não, eu vou pra Jacarepaguá"), tornaria seu autor uma celebridade em todo o Brasil. Como curiosidade, o que se destaca no acompanhamento da música é o uso de um teclado monofônico - o solovox - que, acoplado ao piano, soltava um som irresistível, parecido com o do acordeom.
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Outra música inusitada pelo seu ritmo que fez sucesso foi São Paulo Quatrocentão, um dobrado - talvez a única vez que um dobrado chegou ao topo das paradas -, de autoria de dois bambas, Garoto e Chiquinho do Acordeom, feito em homenagem ao 1V Centenário de São Paulo, comemorado em Janeiro de 1954. Mais inusitada ainda foi uma versão brasileira da música That's Amore (Brooks/Warren), sucesso internacional de Dean Martin e nacional nas vozes de Carlos Augusto e João Dias, este último imitador de Francisco Alves, música essa que aqui recebeu o nome de É o "amore", por questão de métrica, talvez?

Betinho e seu conjunto interpretando Neurastênico.






 











Dean Martin interpretando That's Amore.




Só que, não só dessas esquisitices viveu a música popular nesse ano: também se destacam Rio Antigo (Altamiro Carrilho/Augusto Mesquita, com Altamiro Carrilho; Quase (Mirabeau/Jorge Gonçalves), música que consolidou a carreira de Carmen Costa como a única estrela negra do Brasil; Menino de Braçanã (Luís Vieira/Arnaldo Passos), com Luís Vieira (também com Ivon Curi); Carlos Gardel (Herivelto Martins/David Nasser), com Nelson Gonçalves; Valsa de Uma Cidade (Ismael Neto/Antônio Maria), com Lúcio Alves e diversos outros; e Teresa da Praia (Antônio Carlos Jobim/BillyBlanco), interpretada, conjuntamente, por Lúcio Alves e Dick Farney, os dois “queridinhos” da alta classe média carioca.


Ivon Curi interpretando Menino de Braçanã.




Altamiro Carrilho e conjunto interpretando Rio Antigo.















Carmen Costa interpretando Quase.


 








  




Nelson Gonçalves interpretando Carlos Gardel.















Marion Duarte interpetando Valsa de uma Cidade.















Dick Farney e Lúcio Alves interpretando Teresa da Praia.















Lúcio Alves (1927 - 1993), mineiro de Cataguases, nesse ano de 1954, rivalizava com Dick Farney tanto na maneira de cantar quanto na escolha do repertório, mais sofisticado, do tipo que a classe média urbana adorava, basicamente, no início, o samba-canção, migrando, mais tarde, como muitos cantores especializados nesse ritmo, para a bossa nova e similares.
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Muito jovem (sete anos), Lúcio mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, já com algum aprendizado no violão, influenciado pelo pai, maestro da banda musical da cidade mineira. Como Orlando Silva, com sua voz de veludo, era o ídolo de quase todo o mundo, Lúcio logo se sentiu atraído por seu repertório. Foi assim que, com nove anos, ele inicia sua carreira de cantor, apresentando-se no programa radiofônico de Barbosa Júnior, exatamente com um sucesso de Orlando, Juramento Falso (música gravada em 1937, ora apresentada pelos historiadores da música popular brasileira como sendo de autoria de Pedro Caetano, ora como sendo da dupla J. Cascata e Leonel Azevedo). Ele ainda participaria de outro programa de Barbosa Júnior apresentado na rádio Mayrink Veiga – Picolino –, paralelamente trabalhando até em uma radionovela infantil apresentada na Rádio Nacional, Aladim e a Lâmpada Maravilhosa.
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Aos 14 anos de idade, em 1941, Lúcio iniciaria sua carreira musical, aproveitando-se de seus dotes musicais para formar o grupo vocal e instrumental Namorados da Lua. Pela experiência, se tornou o crooner, o violonista e o arranjador da banda. Dentro de pouco tempo, o grupo apresentava-se em cassinos (Copacabana e Atlântico), e em uma façanha digna de nota, ainda no início da carreira, vence o concurso de calouros no programa de Ary Barroso, apresentado na Rádio Tupi do Rio de Janeiro, vindo a seguir para o grupo, outro feito, o de ganhar o concurso carnavalesco oficial do Teatro República com a marcha Nós, os Carecas (Arlindo Marques e Roberto Roberti), gravada, nesse ano de 41, pelos Anjos do Inferno. Em 1942, Os Namorados da Lua gravam seu primeiro 78 rpm pelo selo RCA Victor, trazendo duas músicas de Assis Valente, no lado A, Vestidinho de Iaiá e, no lado B, Té Logo, Sinhá.

 Anjo dos inferno interpretando Nós, os Carecas.


















O conjunto ficaria sem gravar até 1945, quando lançam quatro 78 rpm, trazendo Agora Sim (Francisco Santos/João Diniz), Caráter de Mulher (Francisco Santos/João Diniz e Rubens Pacheco), Morena Faceira (Janet de Almeida) e Eu Quero um Samba (Haroldo Barbosa/Janet de Almeida), o primeiro razoável sucesso do grupo, Olha o Gato (Lauro Maia), Ponto de Interrogação (Marino Pinto/Ciro de Souza), Vai Saudade (também de Marino Pinto em parceria com Valdemar Gomes) e Bate Palma pra Mineira (Assis Valente).

Lisa Ono interpretando Eu Quero um Samba.














Até 1948, o Grupo lançaria diversos 78 rpm, com destaques para as músicas Feitiço da Vila (Vadico/Noel Rosa, 1946),
Casado Não Pode (Alcebíades Nogueira/Rutinaldo Silva, também de 1946), Deixa eu Bater meu Tamborim (Erasmo Silva/Marian Batista, 1947) e Guerra ao Pardal (Peterpan/Alberto Teixeira, de 1948), que seria a última gravação dos Namorados da Lua que chegava ao seu fim, Lúcio iniciando sua carreira solo. Antes, em 1946, Isaurinha Garcia, a mais famosa cantora paulista e a única desse Estado a alcançar sucesso nacional, lança De Conversa em Conversa, um samba de sua autoria em parceria com Haroldo Barbosa, com a participação do próprio grupo, que se transformou em êxito por todo o país.
 
Isaurinha Garcia interpretando De Conversa em Conversa.














Iniciando sua carreira solo, Lúcio lança neste ano (1948), pelo selo Continental, o bolero Solidão (Tres Palabras), original de Osvaldo Farres, em versão de Aloysio de Oliveira, incluída no filme de Walt Disney Música Maestro. Pouco depois, nesse mesmo ano, lança o 78 rpm com duas composições de Luís Bittencourt e Benny Woldorff, Aquelas Palavras e Seja Feliz... Adeus

Acontece que, neste mesmo ano, é convidado para integrar os Anjos do Inferno, com o qual saiu em turnê por diversos países, Cuba, México e Estados Unidos, onde se apresentaram com o nome de “Hell's Angels” nas boates novaiorquinas como Reuben Bleu e Blue Angel. Após quase um ano, o conjunto retorna ao Brasil, Lúcio voltando a sua carreira solo.
 
Omara Portuondo interpretando Tres Palabras.















Interessante é o fato de que Lúcio Alves é identificado pela crítica mais elitizada como um cantor com repertório sofisticado, próprio para as camadas mais "sofisticadas" da população. Por outro lado, Emilinha Borba, por exemplo, sempre foi criticada pelo seu repertório “não sofisticado”, como diria, mais tarde, Miriam Goldfeder, chamando o repertório da cantora de pobre e repetitivo. Só que, a se verificar os autores gravados por Lúcio, conclui-se que, basicamente, ele interpretava canções de compositores (boleros, inclusive) quase todos também gravados pela cantora, como era o caso de Haroldo Barbosa, José Maria de Abreu, Alberto Ribeiro, René Bittencourt, Luiz Peixoto, Radamés Gnattali, o próprio Lúcio Alves, dentre outros.

São os preconceitos da vida.
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Após sua volta, em 1949, Lúcio lança, em 78 rpm, o bolero, de sua autoria, Brumas, com certo destaque, e Nunca Mais, um samba de Dorival Caymmi, o início de uma série de gravações ao longo dos anos, dentre as quais podemos destacar Na Paz do Senhor (José Maria de Abreu e Luiz Peixoto, 1950), o samba-canção Amargura (Alberto Ribeiro e Radamés Gnatalli, 1950), Toureiro Sou Eu (Paulo Soledade e Fernando Lobo, 1951), Sábado em Copacabana (Carlos Guinle e Dorival Caymmi, 1951), Rugas (Newton Teixeira e David Nasser, 1952), Os Beijos Dela (Lupicínio Rodrigues, 1953) e Buenos Aires, um “samba-tango” de sua autoria (1954)

Lúcio Alves interpretando Brumas.















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Por essa época, já era bastante explorada uma suposta rivalidade, basicamente pelo repertório razoavelmente parecido e pela maneira intimista de cantar, entre ele e o cantor Dick Farney. Foi o bastante para que a gravadora de ambos, a Continental, encomendasse a Antônio Carlos Jobim e Billy Blanco uma música para ser interpretada pelos seus dois contratados. Surgiu então o famoso samba Tereza da Praia, um diálogo musical com acompanhamento de Tom Jobim e seu conjunto, considerada uma das canções pré-bossa nova e que proporcionou aos dois cantores um dos grandes sucessos do ano:


“Oh, Dick!
Fala, Lúcio! 
Arranjei novo amor no Leblon
Que corpo bonito
Que pele morena
Que amor de pequena
Amar é tão bom, tão bom!

Oh, Lúcio!
Ela tem o nariz levantado
Os olhos verdinhos, bastante puxado
Cabelo castanho
E uma pinta do lado?
É a minha Tereza da praia
Se ela é tua, é minha também!

O verão passou todo comigo
Mas o inverno, pergunta com quem?
Então vamos
A Tereza na praia deixar
Aos beijos do sol
E abraços do mar.

Tereza da praia
Não é de ninguém
Não pode ser minha
Nem tua também
Tereza da praia
Não é de ninguém!”

Lúcio Alves e Dick Farney interpretando Teresa da Praia.





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Quem também nadou de braçadas durante todo o ano foi Jackson do Pandeiro, o gigante do ritmo. Também consolidando sua carreira no Rio de Janeiro, colocou três músicas nas paradas de sucessos ao longo do ano: Um a Um, de Edgar Ferreira, que homenageia os três times pernambucanos com mais torcida, Sport, Náutico e Santa Cruz ("É encarnado, branco e preto/É encarnado 
e branco/É encarnado, preto e branco/ É encarnado e preto"); Forró em Limoeiro ("Eu fui pra Limoeiro/E gostei do forró de lá"), também de Edgar Ferreira; e Mulher do Anibal ("Que briga é aquela/Que tem acolá/É a mulher do Aníbal/Com o Zé do Angá"), de Genival Macedo e Nestor de Paula.

Jackson do pandeiro interpretando Forró em Limoeiro.
















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E para coroar esse ano de inegável êxito para Jackson, a Columbia lança seu primeiro LP intitulado “Sua Majestade – O Rei do Ritmo”, onde ele navega com naturalidade por diversos ritmos nordestinos, o rojão (Forró em Caruaru, de Zé Dantas, Cabo Tenório, de Rosil Cavalcanti, 1 X 1, de Edgar Ferreira, O Crime Não Compensa, de Genival Macedo e N. De Paula), o coco alagoano (Sebastiana, de Rosil Cavalcanti, Cremilda, de Edgar Ferreira,
Mulher do Aníbal, de Genival Macedo/Nestor de Paiva, Coco Social, de Rosil Cavalcanti), o Chote (Chote de Copacabana, dele próprio), o batuque nordestino (O Canto da Ema, de Alventino Cavalcanti, Ayres Vianna e João do Vale) e até pelo samba carioca, com a inclusão no álbum do samba Falsa Patroa, de Geraldo Pereira e Isaias de Freitas.

Jackson do Pandeiro interpretando Sebastiana.















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Jackson do Pandeiro e João do Vale interpretando O Canto da Ema.

















                                                 
                                                    
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Dos lançamentos internacionais, também fizeram sucesso neste ano de 1954: Blue Gardenia (Russel/Lee), com Nat King Cole (êxito também em versão com Caubi Peixoto); Hi-Lili, Hi-Lo, com Leslie Caron; Johnny (Les Paul/Stellman/Roberts) e Vaya con Dios (Russel/James/Pepper), com Les Paul e Mary Ford (Johnny também seria sucesso em português com a cantora Eladir Porto); Pretend (Douglas/Parman), com Ken Griffin, também sucesso em português na voz de Bill Farr com o título de Pretendo (?); Ruby (Hoenreld/Parish), com Nat King Cole; That's Amore (Brooks//Warren), com Dean Martim; Sous le Ciel de Paris (Giraud/Drejac), com Edith Piaf, Blue Bird (Kayer/Deutsch), com Teresa Brewer.


Edith Piaf interpretando Sous le Ciel de Paris.

















Nat King Cole interpretando Blue Gardenia.
















Dinah Shore interpretando Hi-Lili Hi-Lo.


















Leslie Caron em cena do filme Lili.
















Les Paul e Mary Ford interpretando Vaya con Dios.

















Nat King Cole interpretando Pretend.















Les Baxter e Orquestra interpretando Ruby.



2 comentários:

Anônimo disse...

se alguem poder me deixar uma lista com as dez melhores musicas de forró da decada de 50 eu agradeceria muinto por favor!

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog, estou lendo há horas, é viciante...