28.8.06

A MORTE DA PEQUENA NOTÁVEL

Aquela noite de gravação parecia como diversas outras das quais Carmen Miranda tinha participado ao longo de sua carreira; ela chegara aos estúdios da NBC, em torno de sete horas da noite, com toda a sua entourage, dentre eles seus músicos (Aloysio de Oliveira, Aloysio de Almeida, Orlando, Zé Carioca, Patrocínio Oliveira, Gringo do Pandeiro e Vasco de Almeida), o marido, David Sebastian, sua mãe e diversos outros amigos para participar do show do comediante Jimmy Durante, um dos mais estrondosos sucessos da televisão americana de então.
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A artista se preparava para sua primeira apresentação nos Estados Unidos após seu espetacular sucesso em Havana, onde se apresentara por duas semanas no Tropicana, uma das mais luxuosas casas de shows do mundo. Apesar de sua saúde debilitada - pegara uma pneumonia em Cuba - e de já ter sido admoestada por médicos para evitar uma carga excessiva de trabalho, ela não tinha a intenção de desmarcar seu compromisso com o antigo amigo. Além do mais, participar do show de Jimmy Durante com sua espetacular audiência poderia ser um triunfo de tal magnitude para sua carreira que ela desafiaria tudo, até sua saúde, para que tudo saísse perfeito.

O enredo do programa era simples e objetivo: Carmen seria uma artista estrangeira contratada para se apresentar em um nightclub. O dono da casa noturna, o próprio Jimmy Durante, a esperava impacientemente no cais, com a confusão que se espera com a chegada de uma estrela, muita bagagem, muitos músicos e a algaravia de sempre. A partir daí, os mal-entendidos de todas as comédias - a estrela teve que ficar escondida no apartamento do empresário, que não lhe arranjara um apartamento, sem o conhecimento do locador - são o pretexto para as piadas do show e para que Carmen cantasse, acompanhada do Bando da Lua, o baião Delicado e os mambos, o ritmo coqueluche do momento, Cuanto le Gusta, Very Quiet, Stop It, e Cut it Out.

Carmen Miranda e as Andrews Sisters interpretando Cuanto le Gusta.



Com toda aquela confusão, o senhorio acaba por descobrir a armação, mas, ao reconhecer a artista, se confessa seu grande admirador, pedindo-lhe, inclusive, que cantasse uma música para seu deleite. Fugindo de suas rumbas, congas e mambos, Carmen apresenta ao público americano o choro Delicado, de Waldir Azevedo. Tendo sido a música instrumental de maior sucesso no Brasil em 1952, agora a canção ganhava letra de Aloysio de Oliveira para ser interpretada de forma magnífica pela artista, fechando com chave de ouro a primeira parte do programa.

Carmen Miranda interpretando Delicado (Waldir Azevedo).














Carmen dividiu o palco com outros artistas na segunda parte do show, agora ambientado no clube noturno. Cantando suas rumbas e mambos de sempre, repentinamente, a estrela tem uma espécie de colapso e sofre, espetacularmente, uma queda perante milhões de telespectadores americanos. Com a ajuda do comediante, Carmen se levanta e o show continua. O mambo Quanto le Gusta, cantado pela segunda vez, foi a última música do show e a última apresentação ao vivo de Carmen Miranda. De qualquer modo, o programa foi outro triunfo na carreira da “Pequena Notável”, coroando com chave de ouro seus dezesseis anos de sucesso na América do Norte, em uma jornada internacional iniciada no agora longínquo 1939, uma façanha que a portuguesa Maria do Carmo Miranda da Cunha nem em sonho poderia esperar que acontecesse.


Documentário completo sobre Carmen Miranda.

















Filha de um imigrante português vindo para o Brasil à procura de melhores oportunidades, Maria do Carmo Miranda da Cunha, nascida em 1909, tinha apenas um ano quando chegou com a mãe e uma irmã mais velha para se juntar ao pai que se instalara no Rio de Janeiro, este logo montando uma barbearia para sustentar a família, que aumentaria bastante ao longo dos anos, mais quatro filhos, ou seja, oito bocas para sustentar.

Pelo fato de ter que ajudar a família no sustento da casa, a jovem portuguesa nem terminou o ginasial em um colégio de freiras, trabalhando como balconista e como aprendiz de chapelaria em uma loja de chapéus femininos (onde ganhava Sessenta Mil Reis por mês). Porém a crise se instalara definitivamente na casa de “seu” José Maria Pinto da Cunha; a saída foi transformar a casa em pensão para aumentar a renda familiar, para isso contando com a já numerosa mão-de-obra familiar que ajudaria na diminuição dos custos. Carmen, durante seu trabalho, vivia cantarolando músicas populares, chamando a atenção dos frequentadores da pensão pela graciosidade de seu canto brejeiro, dentre eles vários compositores como Josué de Barros (integrante do grupo Os Oito Batutas, conjunto musical liderado pelo grande Pixinguinha), compositor e violonista baiano que teria importância fundamental na carreira de Maria do Carmo – agora chamada de Carmen, devido à heroína da ópera Carmen, do compositor francês, George Bizet.


E como na história de diversas intérpretes de nossa música popular, o compositor, que ficara impressionado com a personalidade artística da portuguesinha, torna-se seu mestre no campo da interpretação, ao mesmo tempo em que lhe ensina um repertório mais vasto e mais de acordo com seu timbre de voz. Com a técnica mais elaborada, aliada ao seu já então assombroso talento, Carmen logo inicia seu périplo por diversas emissoras cariocas, desembarcando, logo a seguir, na gravadora Brunswick (onde, quase ao mesmo tempo, Ary Barroso gravava a marchinha Dá Nela - “Esta mulher há muito tempo me provoca/Dá nela, dá nela/ É perigosa, fala mais que pata choca/Dá nela, dá nela” -, de sua autoria, grande ganhadora do carnaval de 1930), na qual gravaria seu primeiro disco em 78 rpm, com as músicas Não Vá Simbora e Se o Samba é Moda, ambas de autoria do próprio Josué.
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Enquanto o disco não era lançado, Carmen, além de se apresentar nas rádios Educadora, Sociedade e Mayrink Veiga, se submete a um teste na poderosa RCA Victor, após o qual, imediatamente aceita, gravaria seu segundo disco, contendo as canções Dona Balbina e Triste Jandaia, ambas também de autoria de Josué de Barros. Os dois discos acabariam por ser lançados, com pouca ou quase nenhuma repercussão, quase que simultaneamente no início de 1930.

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A partir de seu sucesso nesse carnaval, e durante toda a década de 30, Carmen inicia uma infinidade de apresentações em rádios (foi a primeira cantora a assinar contrato fixo com uma rádio – a Mayrink Veiga em 1934), clubes, cinemas, cassinos e teatros de todo o Brasil, excursiona repetidas vezes para Buenos Aires, onde conseguiu uma imensa popularidade, ao mesmo tempo em que se aproxima das maiores personalidades da música popular brasileira e da nata dos compositores brasileiros: Francisco Alves, Assis Valente, Synval Silva, Pixinguinha, André Filho, Joubert de Carvalho, César Ladeira (primeiro a chamá-la de “Pequena Notável”), Mário Reis, Almirante, Ary Barroso e outros que muito a ajudaram a consolidar sua carreira.
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Durante esse período, gravaria mais de 260 músicas – um número que assombra até hoje – muitas se transformando em clássicos eternos da música popular brasileira, constantemente regravadas por outros cantores brasileiros contemporâneos, dentre as quais Taí - 1930 (Joubert de Carvalho), Absolutamente – 1931 (Joubert de Carvalho), Adeus Batucada - 1935, Coração – 1934 (ambas de Synval Silva), Alô... Alô? – 1933, Bamboleô – 1931 (André Filho),Inconstitucionalissimamente - 1933 (Hervê Cordovil) Cantoras do Rádio – 1936 (João de Barro/Alberto Ribeiro/Lamartine Babo, em dueto com a irmã, Aurora Miranda) Primavera no Rio João de Barro) – 1934, Balancê – 1936 (ambas de João de Barro/Alberto Ribeiro), Camisa Listrada – 1937, E o Mundo Não Se Acabou – 1938 (as duas de Assis Valente), Como “Vaes” Você – 1936, Eu Dei – 1937, Na Baixa do Sapateiro – 1938, Na Batucada da Vida – 1934, No Taboleiro da Baiana – 1936 (todas de Ary Barroso), O que é Que a Baiana Tem – 1939 (Dorival Caymmi), O Tic-Tac do Meu Coração – 1935 (Alcyr Pires Vermelho/Walfrido Silva) e muitas, muitas mais.

Ademilde Fonseca interpretando E o Mundo não se Acabou.













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Adriana Calcanhoto interpretando E o Mundo não se Acabou.
















Carmen Miranda interpretando Como "Vaes" Você.




Elis Regina interpretando Na Baixa do Sapateiro.


Elis Regina intrepretando Na Batucada da Vida.






Casuarina interpretando No Tabuleiro da Baiana.

















Gal Costa interpretando Balancê.





Ná Ozzetti interpretando Na Batucada da Vida.





Vânia Bastos interpretando Absolutamente.



Ney Matogrosso interpretando Bamboleô.

















Carmen Miranda interpretando Taí.

















Carmen Miranda e Aurora Miranda interpretando Cantoras do Rádio.
















Olívia Byington interpretando Primavera no Rio.


















Olívia Byington interpretando Inconstitucionalissimamente.
















Vanessa da Mata interpretando Camisa Listrada.

















Carmen Miranda interpretando Eu Dei.

















Obviamente, com sua graciosidade, o cinema foi o caminho natural da Pequena Notável. Até 1939, a cantora participaria no Brasil de sete filmes (sem contar sua participação como extra no filme Esposa de Solteiro: O Carnaval Cantado no Rio (documentário de média metragem, com cenas do carnaval carioca rodado em 1932); A Voz do Carnaval (uma produção da Cinédia de 1933 – na verdade um semidocumentário, intercalando seqüências documentais com som direto mostrando o carnaval carioca de então, como os desfiles de corso e as batalhas de confete e cenas filmadas em estúdio – dirigido pelos lendários Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro, em que Carmen Miranda canta Moleque Indigesto, de Lamartine Babo, e Good-Bye, de Assis Valente); Estudantes (outra produção da Cinédia de 1935, o primeiro filme de longa metragem da artista, dirigido por Wallace Downey, argumento de Braguinha e Alberto Ribeiro e contando no elenco com Carmen Silva, Almirante, Mário Reis, Aurora Miranda, Mesquitinha, César Ladeira e outros. Carmen, além de ser a mocinha do filme, interpreta E Bateu-se a Chapa, de Assis Valente e Sonho de Papel, uma marcha de Alberto Ribeiro)
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A revista Cinearte, de 15 de junho de 1935, mais do que suspeita, já que era umbilicalmente ligada ao pessoal da Cinédia, principalmente a Adhemar Gonzaga, um dos produtores do filme, assim resumiu o filme:


"Carmen Miranda é a pequena do rádio, toda "sex-appeal" Mimi, que se deixa enamorar pelos estudantes apaixonados pelos seus encantos e pelas canções que a 'pequena formidável' interpreta com toda a sua brejeirice. Mesquitinha e Barbosa Júnior são os seus apaixonados... E Carmen, que gosta do estudante Mário Reis, não quer desiludir os dois, proporcionando-lhes momentos de alegria e... comédia. As declarações de ambos são gozadissimas! Já vimos o filme e podemos dizer que o Cinema Brasileiro nunca apresentou outro tão engraçado... a nova produção de Wallace Downey está destinada a bater outro 'record'”.

A próxima produção da qual Carmen participaria seria Alô Alô, Brasil – mais uma apologia ao Rio de Janeiro –, outra produção de 1935 da mesma dupla, Waldow/Cinédia, também com argumento de João de Barro (que efetivamente estava em todas) e Alberto Ribeiro, os quais também foram os diretores da película, ao lado de Wallace Downey. O elenco, estelar também, basicamente repetia o elenco do filme anterior, contando com Mário Reis, Custódio Mesquita, Francisco Alves, Aurora Miranda, Dircinha Batista, Cordélia Ferreira, Elisa Coelho, César Ladeira, Ary Barroso Jorge Murad, Almirante e outros. Filme musical que era, Alô Alô, Brasil é pontuado por diversos números musicais de sucessos eternos, destacando-se Rasguei a Minha Fantasia, de Lamartine Babo, interpretada pelo cantor galã Mário Reis; Foi Ela (Ary Barroso), com Francisco Alves; Cidade Maravilhosa, de André Filho, cantada por Aurora Miranda e Primavera no Rio, de Braguinha, interpretada por ela própria.

Francisco Alves interpretando Foi Ela.



















Caetano Veloso interpretando Cidade Maravilhosa.




Aurora Miranda interpretando Cidade Maravilhosa.

















O quinto filme do qual participaria Carmen seria Alô Alô, Carnaval – considerado por muitos críticos o verdadeiro precursor das chanchadas que ganhariam força nos estúdios Atlântida, principalmente na década de 50 –, também produzido pela dupla Waldow/Cinédia em 1935/1936. Clássico musical de Adhemar Gonzaga, baseado em argumento de Braguinha e Alberto Ribeiro, conta as dificuldades por que passam dois autores (Barbosa Júnior e Pinto Filho) à procura de alguém interessado em investir em uma revista musical intitulada Banana da Terra. O problema é que, quando encontrado, o produtor (Jayme Costa), dono do cassino “Mosca Azul”, se nega a bancar o empreendimento, já que se comprometera com outra atração vinda da França. Como nada sai como esperado, ele termina por reconsiderar sua decisão produzindo a revista. No elenco estão Jaime Costa, Barbosa Júnior, Pinto Filho, Oscarito (em um de seus primeiros papéis), Lelita Rosa, Francisco Alves, Lamartine Babo, Luiz Barbosa, Hélio Barroso, Dircinha Batista, Linda Batista e vários outros.
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O filme acabou imortalizado por ter apresentado a famosa interpretação das irmãs Miranda – Carmen e Aurora trajadas com camisas listradas bem ao estilo malandro e calças brilhantes – da música Cantores do Rádio, de Braguinha e Alberto Ribeiro, que se tornaria o hino de uma época considerada a era de ouro da música popular brasileira, a Era do Rádio, que se tornaria título de um filme-reminiscência dirigido muitos anos mais tarde por Woody Allen. O próximo grande salto de Carmen rumo à imortalidade aconteceria em seu filme seguinte, Banana da Terra, uma produção da Sonofilmes de 1938. Com direção de João de Barro, o Braguinha (e Ruy Costa), supervisionado por Wallace Downey, o filme é baseado em argumento do próprio Braguinha, secundado por Mário Lago, assim descrito por seu autor:
“Uma ilha do Oceano Pacífico – a Bananolândia – produzira muita banana naquele ano e não teve compradores para seu produto. A rainha da terra, Dircinha Batista, avisada pelo conselheiro-mor, Oscarito, deveria vender bananas para o Brasil. E isso, ela consegue, por meio de uma intensa propaganda feita pelos jornais e pelo rádio... Enfim, um pequeno entrecho salpicado de tiradas humorísticas, dando margem a intercalar números musicais, onde se apresentam Carmen Miranda, Carlos Galhardo, Moreira da Silva e outros, e outros..."
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Essa pr
odução cinematográfica traz em seu elenco, basicamente, os artistas então contratados pelo Cassino da Urca, o mais famoso e elegante do Brasil: a então rainha do rádio, Linda Batista, sua sucessora na década de 50, Emilinha Borba (linda, em início de carreira com 14/15 anos), Dircinha Batista, Aurora Miranda, Neyde Martins, Almirante, Oscarito, Orlando Silva, Aloysio de Oliveira, Jorge Murad, Carlos Galhardo, Lauro Borges, Castro Barbosa, Mário Silva, Paulo Netto e o Bando da Lua; o desenvolvimento do roteiro possibilitava que diversas músicas carnavalescas fossem apresentadas, muitas se tornando clássicos eternos: A Jardineira (de Benedicto Lacerda e Humberto Porto), na voz de Orlando Silva; Tirolesa (de Osvaldo Santiago e Paulo Barbosa), com Dircinha Batista; Sei Que é Covardia (de Claudionor Cruz e Ataulfo Alves), com Carlos Galhardo etc.


Orlando Silva interpretando A Jardineira.





A história das filmagens, segundo consta, real, é cinematográfica e deveras implausível: com cronograma apertadíssimo, porquanto o carnaval começaria dentro de pouco tempo, a produção teve que ser, repentinamente, interrompida: Carmen interpretaria – Na Baixa do Sapateiro, de Ary Barroso; só que o compositor, inconformado com a quantia paga pela cessão da música, muda de ideia e resolve pedir ao produtor Downey muito mais, cinco contos de réis, bastante dinheiro para a época. As filmagens tiveram que ser interrompidas durante as negociações. Uma das várias versões da história conta que, enquanto se negociava,
Almirante, que estava no elenco, teria se lembrado de uma canção de um jovem cantor e compositor baiano – Dorival Caymmy, intitulada O Que é Que a Baiana Tem? A música seria perfeita, porque, além de linda, permitiria a manutenção dos cenários e dos figurinos de Carmen – turbante de frutas, braceletes, sandálias de plataforma enfeitadas e balangandãs – e do Bando da Lua que a acompanharia em seu número. E assim criou-se o mito da baiana, pronta para, em muito pouco tempo, conquistar o América do Norte e o mundo.
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Produzido para repetir o sucesso popular do filme anterior, e novamente recheado de músicas carnavalescas, a Sonofilmes realizaria, em fins de 1939, quase que como uma provocação à crítica, que detestara Banana da Terra, outra chanchada, Laranja da China, agora com direção, argumento e roteiro de Ruy Costa, produção da dupla Wallace Downey e Alberto Byinton, músicas dos maiores bambas da música popular brasileira da época – Ary Barroso, Benedito Lacerda, Dorival Caymmy, João de Barro, dentre outros. No elenco, Dircinha Batista, César Ladeira, Lauro Borges, Grande Otelo (em um de seus primeiros filmes), Benedito Lacerda, Pedro Vargas, Francisco Alves, Barbosa Júnior etc.
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O argumento desenvolvido por Ruy Costa – cuja história nada tem a ver com o título - é meio pirado, chegado ao nonsense: Barbosa Júnior interpreta o doutor Flores, cidadão ultraconservador, sendo até sócio da “Liga Contra a Malandragem”; só que, para seu desprazer, a filha adolescente, Camélia (Dircinha Batista) namora um boêmio e compositor popular. Ao mesmo tempo, um tal de doutor Salsich (Lauro Borges), isola em laboratório um vírus muito estranho, o vírus do samba. Boneco de Piche (Grande Otelo), um pequeno delinquente e aprendiz de punguista, fugindo de uma batida policial, tem que se esconder no laboratório do cientista, onde, sem querer, rouba alguns coelhos, que, na verdade, estavam inoculadas com o aludido vírus. Vendo a oportunidade de ganhar algum dinheiro, Vende as cobaias o doutor Flores, que, infeccionado, cai na gandaia com sua esposa aderindo totalmente ao samba. Nos finalmentes, o doutor Salsich sai à procura de suas cobaias, terminando por aderir a uma roda de samba e à música popular brasileira.
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Crítica anônima (conforme citada pelo site do SESC de São Paulo), cheia de preconceito, rejeita a fita, considerando-a perigosa para o povão. É o velho receio de parte dos intelectuais com relação às massas:
"O enredo da película, entretanto, é nocivo e forte para as massas. As apologias ao malandro, ao ladrão, à farra, e a muitas coisas mais, embora provoquem estrondosas gargalhadas, são avessas aos mais rudimentares princípios da moral.O cinema que tem grande influência sobre o povo, sobre a juventude, deve ser utilizado como arma educativa e não destruidora dos conceitos morais. Esse é um ponto que deve ser longamente meditado pelos produtores brasileiros, que devem evitar as chanchadas, próprias para os teatros da Praça Tiradentes, encarando com mais cuidado o grande auxílio que o cinema poderá oferecer à educação do povo."
Carmen, de verdade, não atua no filme; a sequência de O Que é Que a Baiana Tem?, apresentada em Banana da Terra é reproduzida no filme, supostamente como homenagem prestada a ela pela direção e produção do filme. O que se depreende, no entanto, é que os produtores foram espertos o bastante para aproveitar a imensa exposição da estrela na mídia, fruto de sua ida para os Estados Unidos, cujo sucesso era apregoado tonitruantemente por jornais e revistas brasileiros.
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Banana da Terra seria também o último filme brasileiro com a participação da estrela, que, a essa altura, estava sonhando em voar alto, muito mais alto.
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E não era apenas sonho. No início de 1939, Carmen era a estrela absoluta do Cassino da Urca, a mais espetacular casa de shows do Brasil; já incorporara definitivamente a baiana como sua persona e suas performances eram aguardadas com ansiedade pelo público freqüentador da casa de jogos. Certa noite, segundo uma versão, seu show foi assistido pelo empresário americano Lee Schubert, em visita ao Brasil acompanhada da patinadora Sonja Henie – que, de atleta olímpica ganhadora de medalhas de ouro, se tornara estrela em Hollywood; já alertado sobre o talento de Carmen, sabendo da possibilidade de ela integrar seu elenco que encantava a Broadway, impressionou-se com a graciosidade da estrela e com o exotismo do show. Já antevendo a possibilidade de sucesso, o empresário a contrata e Carmen se prepara para conquistar Nova York.
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Outra versão da história atribui sua ida para os Estados Unidos ao fato de que o governo brasileiro resolvera participar da Feira Mundial em Nova York, e Getúlio Vargas teria se entusiasmado com a ideia de Carmen fazer uma aparição junto à delegação brasileira. Sua ida também seria o coroamento da política de boa vizinhança que, àquela altura, estava sendo implementada em toda a América do Sul pelo presidente norte-americano, Franklin D. Roosevelt, tendo a segunda guerra mundial como pano de fundo (versão que seria, mais tarde, desmentida por Ruy Castro). Seja qual for a verdade, o fato é que, em quatro de maio de 1939, Carmen, após se despedir do público brasileiro em um espetáculo acontecido no grill do Cassino da Urca, embarca no vapor Uruguai, acompanhado pelo Bando da Lua, para conquistar a América.
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Ao contrário, entretanto, do que se pensa, sua estréia em terras norte-americanas aconteceu na cidade de Boston, na revista Streets of Paris, cujo êxito prenunciava uma carreira de glórias em Nova York. Seu sucesso foi tamanho que logo foi homenageada no Jockey Club da cidade, com um páreo que levava seu nome.
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No entanto, uma coisa era Boston, outra, a Broadway. E em 16 de junho daquele ano, acontece seu debut em Nova York. Sua participação no musical foi de apenas seis minutos, o tempo suficiente para conquistar o público e se tornar o assunto da cidade. Logo apelidada de “Brazilian Bombshell”, sua atuação na revista imediatamente arrancou elogiosos artigos nos jornais e revistas; segundo a Vogue, “com encantador sotaque português, uma alegria sincera e dedos como borboletas voadoras, Carmen Miranda é leve como uma bolha de sabão”. E para a Look, uma então poderosa revista, “Carmen Miranda veio da América do Sul cantar umas coisas que ninguém entende, mexe os braços e o corpo. Conquistou a Broadway.”

O comentário geral era o de que a cantora teria sido o grande nome tanto do show da Broadway quanto da Feira de Nova Iorque. E logo também seus vestidos coloridos, seus turbantes e balangandãs e suas sandálias do tipo plataforma estavam copiados e expostos em várias vitrines de diversas lojas da cidade. Era a glória que chegava para a cantora com apenas dez anos de carreira. Mas havia muito mais para ser conquistado. Muito mais. E o caminho natural para Carmen era a cidade dos sonhos, a cidade das estrelas, Hollywood.
O primeiro filme de Carmen em Hollywood foi Serenata Tropical (Down Argentina Way), um péssimo filme realizado já em 1940. Produzido pelo poderoso produtor Darryl Zanuck, e dirigido por Irving Cummings, o filme é estrelado pela loira dinamite Betty Grable, secundada por Don Ameche e Charlotte Greenwood. Ainda desconhecida pelos executivos da Fox, que não conheciam suas possibilidades histriônicas, Carmen somente se apresenta cantando no filme (tudo foi filmado em Nova York), sem absolutamente nenhuma fala. Interpretando South America Way, Mamãe eu Quero e Bamboo Bamboo, a estrela, porém, praticamente salva o filme, o que aconteceria com quase todos os outros dos quais futuramente participaria.
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Este filme também entraria para a história por motivos políticos; Não obstante a história do filme se passar na Argentina, tudo foi filmado em estúdios norte-americanos; as músicas eram uma algaravia de ritmos brasileiros e cubanos, trazendo uma imagem grotesca e descabida do então mais civilizado país da América do Sul, o que ocasionou violentos protestos dos argentinos, o oposto do que queria Roosevelt, com sua política de boa vizinhança, principalmente com um país que tinha notórias inclinações germanófilas; o filme chegou a ser banido do país e recebeu críticas devastadoras aqui no Brasil. Teve que ser totalmente remontado, posteriormente, pelos executivos de Zanuck.
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Carmen Miranda interpretando South America Way.



















Carmen Miranda interpretando Mamãe eu Quero.


















Dom Ameche e Betty Grable no filme Down Argentina Way (Serenata Tropical).














De qualquer maneira o filme foi um sucesso espetacular nos Estados Unidos e foi uma Carmen Miranda triunfante que, depois de se exibir para o presidente Roosevelt na Casa Branca em março, volta para o Brasil em 10 de julho de 1940, recebendo uma acolhida popular jamais vista em terras brasileiras, com direito até a cordão de isolamento. As manchetes das revistas e jornais sobre o acontecimento dão a dimensão de sua chegada: O Globo: “Carmen Miranda Volta Mais BrasileiraRecepção Triunfal”; revista O Cruzeiro: “Recepção Festiva à ‘Embaixatriz do Samba’”; revista Careta: “O maior Acontecimento do Ano”.
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No entanto, uma coisa era uma demonstração de carinho por parte da população, das massas, outra da elite brasileira. E foi exatamente essa elite, a elite carioca estritamente falando, que recebeu Carmen – absolutamente pasma e sem entender direito o que acontecia – de maneira calculadamente fria em sua apresentação no Cassino da Urca em um espetáculo de caridade promovido pela primeira dama, Dona Darcy Vargas, em 15 de julho de 1940. Sempre se comentou que a cantora teria sido vaiada, mas, tudo leva a crer que isso não aconteceu. O que se dizia, o que se comentava era que a estrela, brasileiríssima até a alma, se vendera ao sonho americano e, de maneira caricata – uma falsa baiana – teria se americanizado.

Carmen, mesmo sem intenção, colaborou significativamente com o acontecido; sabia que não seria um show para turistas e que todo o Rio de Janeiro estaria presente, os ricos e poderosos, naturalmente, com sua corte de cronistas sociais e apaniguados de sempre, sem contar os críticos musicais, que já a criticavam pelo seu atual repertório e imagem estereotipada, mas não se deu conta de que os bem nascidos dos trópicos são esnobes por excelência e sempre à espreita para exercitar seu esnobismo. Assim que entrou em cena, quis brincar com a platéia, saudando-a com um “good night, people” (a saudação correta seria “good evening, people”). Recebeu como resposta um silêncio gelado.

A escolha do repertório, por seu lado, foi a pior possível: ao invés de apresentar seus sucessos brasileiros, escolheu canções medíocres cantadas em inglês tatibitate, tais como The South America Way, I want My Mama (Mamãe eu Quero), Bamboo, Bamboo e Co, Co, Co, Co, Co, Co, Co; o resultado foi constrangedor para a estrela internacional, quase nenhum aplauso e (segundo algumas fontes não muito fidedignas) muitas vaias, assobios e conversas em tom alto entre a platéia, a maioria com olhares de reprovação. Sentindo o drama, Carmen apresentou então O Que é Que a Baiana Tem?, que, a essa altura, já não significava nada, o público reagindo da mesma maneira. Retirando-se para seu camarim, Carmen teve uma crise de choro e cancelou o espetáculo que seria apresentado no dia seguinte.

Carmen Miranda interpretando Bamboo, Bamboo.
















Carmen Miranda interpretando I Want my Mama/Mamãe eu Quero.















Apesar do episódio traumático, Carmen planejou com cautela nova apresentação por uma semana no mesmo Cassino da Urca para o mês de setembro; convocou seus compositores preferidos para comporem novas músicas para o show, deu palpite na orquestra e exigiu um novo cenário para o espetáculo. Luiz Peixoto e Vicente Paiva, aproveitando os fatos acontecidos no malfadado show anterior, compuseram E Disseram Que Voltei Americanizada (“E disseram que voltei americanizada/ Com o ‘burro’ do dinheiro que estou muito rica/Que não suporto mais o breque do pandeiro/E fico arrepiada ouvindo uma cuíca...”.) e Voltei Pro Morro. Ambas as letras tinham a intenção de mostrar ao público em geral e à elite em particular que ela era brasileira até a alma e não uma falsa baiana como se comentava; seria resposta à altura da estrela a seus detratores.

Roberta Sá interpretando Disseram Que eu Voltei Americanizada.


















Carmen Miranda interpretando Voltei pro Morro.














O resultado não foi outro: a estrela, dessa vez, foi ovacionada e sua temporada um sucesso retumbante. Mas a mágoa da recepção anterior nunca mais abandonaria o coração de Carmen. Pouco depois, no início de outubro ela embarcaria novamente para a América do Norte, agora com um contrato para a realização de diversos filmes com os estúdios Fox. Carmen daria, assim, prosseguimento à sua carreira internacional de estrela de Hollywood.

A maioria dos filmes dos quais Carmen participou não entrou para a história do cinema, não participa das antologias das grandes obras cinematográficas, nenhum se notabilizou como uma obra prima, com exceção talvez de Entre a Loura e a Morena (The Gang’s All Here), uma fantasia musical exótica e delirante do coreógrafo Busby Berkeley. É nesse filme que Carmen saracoteia (seu turbante de bananas no final da cena ia até o céu, uma cena considerada antológica até hoje) em meio a um luxuriante cenário tropical coalhado de bananas e morangos gigantescos com garotas seminuas do Pacífico Sul espalhadas por toda a parte, ao som da música “Brazil”, o nome de Aquarela do Brasil (Ary Barroso) na América. Foi chamado por determinado crítico
“(...) uma perfeitamente horrível e totalmente fascinante aberração, com alguns dos efeitos especiais mais espantosos e escandalosos do diretor”.

Mesmo dominando com sua magnética presença a maioria dos filmes em que participou, sempre como coadjuvante, seus papéis, invariavelmente, eram quase os mesmos, uma cantora latina (ou uma senhora latina, ou uma parente latina) de rumbas e outros ritmos latinos estilizados, com um sotaque quase irreconhecível, com nomes como Marina, Rosita, Dorita, Carmelita e outros semelhantes e, também, na maioria das vezes, com o mesmo elenco, entre os quais se sobressaíam Don Ameche, Alice, Faye, Tom Payne, Betty Grable, Cesar Romero e Vivian Blaine.

Até 1955, depois de Serenata Tropical (Down Argentina Way), Carmen participaria de 14 filmes, primeiro na Fox, depois para vários estúdios: Uma Noite no Rio (That Night In Rio, 1941); Produção: Fox (colorido); Direção: Irving Cummings; Elenco: Don Ameche, Alice Faye, Bando da Lua, Flores Brothers e outros. Canções de Carmen Miranda: Chica Chica Boom Chic, Cai Cai, I, Yi, Yi, Yi, Yi, (I Like You Very Much). Aconteceu em Havana (Week-End in Havana, 1941); Produção: Fox (colorido); Direção: Walter Lang; Elenco: Alice Faye, John Payne, Cesar Romero, Bando da Lua e outros. Canções de Carmen Miranda: A Week End In Havana, When I Love I Love, Rebola, Bola, The Nango. Minha Secretária Brasileira (Springtime in the Rockies, 1942); Produção: Fox (colorido); Direção: Irving Cummings; Elenco: Betty Grable, John Payne, Cesar Romero, Charlotte Greenwood, Edward Everett Horton, Harry James e Orquestra, Bando da Lua e outros. Canções de Carmen Miranda: Chattanooga Choo Choo, O Tic-Tac do Meu Coração. Entre a Loura e a Morena (The Gang’s All Here, 1943); Produção: Fox (colorido); Direção: Busby Berkeley; Elenco: Alice Faye, Phil Baker, Charlotte Greenwood, Sheila Ryan, Edward Everett Horton, Benny Goodman e Orquestra, Bando da Lua e outros. Canções de Carmen Miranda: Aquarela do Brasil, The Lady in the Tutti Frutti Hat, Paducah, You Discover You’re in New York, A Journey to a Star (todo o elenco). Quatro Moças num Jipe (Four Jills in a Jeep, 1944); Produção: Fox (preto e branco); Diretor: William A. Seiter; Elenco: Kay Francis, Martha Raye, Dick Haymes, Betty Grable, Carole Landis, Jimmy Dorsey e Orquestra e outros. Canção de Carmen Miranda: I, Yi, Yi, Yi, Yi (I Like You Very Much).


Carmen Miranda interpretando Cai Cai.




Carmen Miranda interpretando I Like you Very Much.



















Carmen Miranda interpretando Chica Chica Boom Chic.



















Ivete Sangalo interpretando Chica Chica Boom Chic.

















Carmen Miranda interpretando Weekend in Havana.




















Carmen Miranda interpretando When I Love I love.







Carmen Miranda interpretando Rebola Bola e When I Love, I Love.


















Carmen Miranda interpretando The Nango.


















Carmen Miranda interpretando Chattanooga Choo Choo.



















Carmen Miranda interpretando O Tic-Tac do Meu Coração.



















Carmen Miranda interpretando Aquarela do Brasil.



















Carmen Miranda interpretando The Lady in the Tutti Frutti Hat.

















Carmen Miranda interpretando Brazil/You Discover You're In New York.














Vieram a seguir: Serenata Boêmia (Greenwich Village, 1944); Direção de Walter Lang; Elenco: Don Ameche, Vivian Blaine, William Bendix, Emil Rameau e outros. Canções de Carmen Miranda: O Que é Que a Baiana Tem?, Give Me a Band and a Bandana, Quando Eu Penso na Bahia, I’m Just Wild About Harry, I Like To Be Loved By You. Alegria, Rapazes! (Something For the Boys, 1944); Produção: Fox (colorido); Direção: Lewis Seiler; Elenco:

Vivian Blaine, Michael O’Shea, Cora Williams, Judy Hollyday, Perry Como, Bando da Lua e outros. Canções de Carmen Miranda: Batuca Nêgo, Samba Boogie, Wouldn’t It Be Nice? (somente um pequeno trecho). Sonhos de Estrela (Doll Face, 1945); Produção: Fox (preto e branco); Direção: Lewis Seiler; Elenco: Vivian Blaine, Martha Stewart, Perry Como, Dennis O’Keefe, Michael Dunne e outros. Canção de Carmen Miranda: Chico-Chico (from Porto Rico). The All-Star Bond Rally (filme de propaganda do Exército Americano), de 1945; produção: Office of War Information; elenco: Jeanne Crain, Bing Crosby, Betty Grable, Linda Darnell, Bob Hope, Glenn Langan, Frank Latimore, Fay Marlowe, Harpo Marx, Fibber McGee and Molly, Frank Sinatra. Se eu Fosse Feliz (If I’m Lucky, 1946); Produção: Fox (colorido); Direção: Lewis Seiler; Elenco: Vivian Blaine, Perry Como, Edgar Buchana, Harry James e Orquestra e outros. Canções de Carmen Miranda: Batucada, Follow the Band, Bet Your Bottom Dollar. Copacabana (Copacabana, 1947); Produção: United Artists (preto e branco); Direção: Alfred E. Green; Elenco: Groucho Marx, Andy Russel, Gloria Jean, Steve Cochran, Merle McHugh e outros. Canções de Carmen Miranda: Tico Tico no Fubá, How To Make A Hit with Fifi, Let’s Do the Copacabana, Je Vous Aime, I Haven’t a Thing To Sell (com Andy Russel). O Príncipe Encantado (A Date With Judy, 1948); Produção: Metro (colorido); Direção: Richard Thorpe. Elenco: Jane Powell, Elizabeth Taylor, Selena Royle, Wallace Beery, Robert Stack, Xavier Cugat e Orquestra e outros. Canções de Carmen Miranda: Cuanto Le Gusta, Cooking With Glass, It’s A Most Unusual Day (somente um pequeno trecho). Romance Carioca (Nancy Goes To Rio, 1950); Produção: Metro (colorido); Direção: Robert Z. Leonard; Elenco: Jane Powell, Ann Sothern, Barry Sullivan, Louis Calhern, Nella Walker, Bando da Lua e outros. Canções de Carmen Miranda: Yipsee-I-O, Baião. Morrendo de Medo (Scared Stiff, 1953); Produção: Paramount (preto e branco); Direção: George Marshall; Elenco: Lizabeth Scott, Dean Martin, Jerry Lewis, Dorothy Malone e outros; Canções de Carmen Miranda: San Domingo, The Bongo Bingo, The Enchilada Man.



Carmen Miranda interpretando Give me a Band and a Bandana.


Olívia Byington interpretando Quando eu Penso na Bahia.



Carmen Miranda interpretando I'm Just Wild About Harry.



Carmen Miranda interpretando I Like to Be Loved by You.



Carmen Miranda interpretando Batucada.



Carmen Miranda interpretando Bet Your Bottom Dollar.



Carmen Miranda interpretando Tico-Tico no Fubá.



Carmen Miranda interpretando How to Make a Hit With Fifi.



Carmen Miranda interpretando Let's Do the Copacabana.



Carmen Miranda interpretando Je Vous Aime.



Carmen Miranda interpretando I Haven't a Thing to Sell.



Carmen Miranda interpretando Cuanto le Gusta.


Carmen Miranda interpretando Cooking With Glass.


Carmen Miranda interpretando Yipsee-I-O.



Carmen Miranda interpretando Baião.



Carmen Miranda interpretando Santo Domingo e The Bongo Bingo.



Carmen miranda interpretando The Enchilada Man.

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A fama e a vida agitada de Carmen, com centenas de apresentações por toda a América do Norte, Europa e Caribe (foi a artista a pagar mais imposto de renda no país em 1946) logo também começou a cobrar seu preço: No Brasil, levava uma vida saudável e raramente bebia; nos Estados Unidos, passou a beber e tomar pílulas para dormir. Seu relacionamento com o norte-americano David Sebastian, com quem se casou em 1947, não foi um mar de rosas e rapidamente a estrela entrou em um quadro depressivo, que só piorou após um aborto espontâneo. Como seu estado de saúde se agravava devido ao estresse, seu médico lhe recomendou repouso absoluto por vários meses e, após um período em que teve um colapso nervoso, uma trêmula e nervosa Carmen viaja para o Rio de Janeiro, chegando à cidade no dia 3 de dezembro de 1954.

No início chorosa e insegura, Carmen, com o passar dos dias e meses, aparentemente, foi-se recuperando, ganhou cores, chegando até a engordar; logo começou a sair, freqüentar espetáculos e shows e até coroou Vera Lúcia como Rainha do Rádio de 1955. Entretanto, paradoxalmente, sentia saudades de sua vida nos Estados Unidos e do marido, sabendo, além do mais, que o show tinha que continuar. Assim, após quatro meses, retorna definitivamente para a América do Norte, retornando à sua vida no show business. Aquela apresentação no show de Jimmy Durante deveria ser apenas mais na carreira da cantora.
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Após o show, lá para as vinte e duas horas, Carmen e sua turma retornam à sua casa para comemorar o sucesso da apresentação. Logo outros amigos começam a chegar e, apesar da recomendação médica, Carmen, bastante excitada, se portou como uma verdadeira anfitriã, entretendo os amigos com música, dançando e bebendo, somente indo para seu quarto depois das duas da madrugada. Morreu só, a caminho do banheiro, em sua casa localizada em Beverly Hills, Los Angeles, com apenas quarenta e seis anos de idade.
Aos doze de agosto de 1955, seu corpo embalsamado chega ao Rio de Janeiro ao som da marcha Tá Hi! e do samba Adeus, Batucada, seu corpo sendo velado na Câmara de Vereadores do Rio. Das 13 horas desse dia até às 13h30min horas do dia 13, milhares de pessoas desfilaram perante seu corpo. Carmen Miranda foi sepultada no cemitério de São João Batista, o cortejo tendo sido acompanhado por uma multidão calculada entre quinhentos mil a um milhão de pessoas, o mais concorrido de toda a história do Rio de Janeiro, maior até, segundo se comentou, do que o do presidente Getúlio Vargas.
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Iniciou a carreira adorada pelas massas; morreu adorada pelas massas para se tornar a mais lendária de todas as divas brasileiras.

Um comentário:

Vanuza Pantaleão disse...

Espetacular texto!Para mim, que no dia de sua morte, anunciada pelo Repórter Esso de forma extraordinária, não entendia nada, sendo apenas uma criança, sinto-me agraciada com tantos detalhes sobre esse MITO e olha que já pesquisei bastante sobre sua vida e obra, inclusive, visitando o seu museu (não citado) na Praia do Flamengo, no Rio.Adorei!