

.
Aliás, a taç
a Jules Rimet já vinha cercada de lendas e mistérios. Dizia-se que o presidente da Federação Italiana de Futebol, Ottorino Barassi, a escondera em uma cisterna por seis anos, durante a Segunda Guerra Mundial, receoso de que ela caísse em mãos dos alemães e derretida para se aproveitar seu ouro. Da mesma forma, se comentava que o Brasil não mais seria a sede da competição por tê-la perdido ao não se realizar a disputa em 1942, ano em que o Brasil seria o anfitrião, exatamente em virtude da conflagração mundial iniciada em 1939. Porém, Jules Rimet confirmou a realização da copa no Brasil e assim toda a infra-estrutura fora montada, objetivando a conquista do maior e mais famoso torneio de futebol do mundo.
.

.
Flávio Costa foi o técnico escolhido para dirigir a seleção brasileira. Mesmo já sendo o nome mais falado para tal, tornara-se mais forte ainda com a conquista do Sul-Americano de 49 frente ao Paraguai. O receio dos paulistas era de que, sendo carioca, ele formasse a base do time com jogadores do Rio de Janeiro, receio que se tornou realidade, assim que saiu a lista de convocados.

base da seleção vitoriosa no Sul-Americano do ano findo e, neste momento, o melhor tim e do Brasil, teve convocados nove jogadores: Barbosa, Augusto, Eli, Danilo (o “Príncipe Danilo”), Friaça, Alfredo, Maneca, Ademir e Chico. Os vascainos ainda ficaram de cara feia pela não convocação de Ipojucan, ídolo do time. O Flamengo cedeu Juvenal, Bigode e Zizinho. O Fluminense, Castilho e Rodrigues. Do Botafogo, somente Nilton Santos fora lembrado. Total de cariocas convocados: 15.
Homenagem ao Vasco da Gama, então denominado o "Expresso da Vitória"

Algumas ausências e presenças causaram irritação nos torcedores e na imprensa, duelando em defesa de seus estados a



Copa do Mundo de 1950.
Começam as eliminatórias em 24 de junho de 1950. Nosso primeiro adversário é a seleção mexicana e o time, assim como todas as 100.000

Iniciado o jogo, o Brasil parte p’ra cima do México, que logo recua, permitindo uma sé

.
Aos 11 minutos do segundo tempo, Jair aumenta para 2 x 0, após receber um centro de Maneca, enganando os dois zagueiros mexicanos. Aproveitando o cansaço do México, Baltazar, aos 17 minutos, faz 3 x 0, depois de receber um passe de Friaça, aumentando mais ainda a confiança da torcida presente ao Maracanã. E aos 35 minutos, após sensacional jogada de Jair indo até a linha de fundo e cruzando rasteiro para a área, Ademir encerra o placar, aproveitando a bela jogada do jogador palmeirense para fazer 4 x 0. Foi um início de copa p’ra deixar todo o Brasil confiante.

.
Contra a Iugoslávia, que chegara com bastante fama, Flávio Costa prefere a fórmula simples de escalar quem ele conhece melhor, quer seja, o com
binado Vasco/Flamengo, mais alguns gatos pingados. Assim, a seleção entra em campo com Barbosa, Augusto e Juvenal. Bauer, Danilo e Bigode. Maneca, Zizinho, Ademir, Jair e Chico. Um time de respeito, com responsabilidade de ganhar, já que uma derrota, àquela altura, seria um desastre nacional. Porém, o Brasil se posiciona melhor em campo, todo mundo jogando um futebol de raça e beleza. O resultado de 2 x 0, gols de Ademir (3 minutos do primeiro tempo) e Zizinho (aos 24 minutos do segundo tempo) premia o melhor futebol do Brasil, classificando-o para a etapa seguinte.

A Suécia, a próxima adversária, vinha embalada para jogar contra o Brasil, depois de sua histórica vitória sobre a Itália no Pacaembu por 3 x 2, emudecendo todo o estádio, lotado pela colônia italiana, e depois do empate com o Paraguai por 2 x 2, jogo realizado em Curitiba. Mas, no dia do jogo – 9 de Julho de 1950 – a euforia popular estava elevada. Flávio Costa, pela primeira vez, não mexe no time, mantendo a mesma equipe que destruíra a Iugoslávia. A imprensa depois comentaria que aquele sim era o time do Brasil, inegavelmente o campeão do mundo na opinião de todos.
O que teria acontecido durante a partida para que o otimismo brasileiro chegasse àquela altura, seduzindo toda a torcida e a imprensa, maravilhadas com futebol tão brilhante? Simplesmente metera uma goleada histórica de 7 x 1 nos suecos, os gols saindo um por um nos pés de Ademir (aos 17 e 36 minutos do primeiro tempo, e aos 7 e 13, do segundo tempo), do ponteiro esquerdo Chico (39 minutos do primeiro tempo e aos 43 minutos do segundo tempo) e Maneca (aos 40 minutos do segundo tempo).
O jogo contra a Espanha (em 13.07.50) entrou para a história. Contra a “Fúria”, a massa estava indócil, impossível mesmo. O Maracanã tremia sob as vozes de 200.000 pessoas cantando Touradas em Madrid, a famosa marcha de carnaval de Braguinha, impedida de ganhar o carnaval de 1938 e que ali, naquele jogo, alcançava sua definitiva consagração. O time, mais uma vez, não fora modificado.
O “Scratch” brasileiro, com uma única alteração, Friaça em substituição a Maneca, retribuiu a vibração popular com outra goleada histórica:
6 x 1 na Espanha, com um gol contra a favor do Brasil aos 15 minutos do primeiro tempo, outro de Jair aos 21 minutos do primeiro tempo e o terceiro de Chico, também no primeiro tempo, aos 30 minutos. O Brasil volta envenenado para o segundo tempo e os gols continuam: Chico, um gigante em campo, volta a marcar mais dois gols, aos 10 e 11 minutos, e Zizinho fecha o placar aos 22 minutos. O campeonato estava no papo, era a certeza de todo o Brasil. A disputa final seria contra o Uruguai, que chegara às finais, arrasando a Bolívia por 8 x 0, chegando às finais, empatando com a Espanha por 2 x 2 e vencendo a Suécia pelo placar de 3 x 2 .

Nesse ínterim, nos bastidores, as coisas ferviam e a fogueira das vaidades ardia em febril certeza. A concentração saíra do Joá para São Januário, sede do Vasco da Gama, por pressões políticas, o que facilitava ainda mais o contacto entre os jogadores, seus familiares, políticos, imprensa etc. Além do mais, a imprensa estava comentando a boca pequena que um problema, este político, estaria embaraçando os membros da seleção brasileira. Tal "problema", acabaria por e ntrar no anedotário político e futebolístico nacionais. Acontece que, na ânsia de agradar a todos, os jogadores estariam dando autógrafos a torto e a direito, acabando por autografar um papel em branco. Segundo os comentários, não demorou nada, e um "Manifesto Comunista", com assinaturas dos jogadores, saiu em um jornal de esquerda, distribuído por todo o Rio de Janeiro.
E a farra continuava: Afinal, tudo é permitido aos campeões do mundo, e os autógrafos e discursos se tornaram constantes. Um famoso jornal chegou a soltar uma edição extra, apontando, em manchete, o Brasil como o Campeão Mundial de Futebol.
16 de Julho de 1950: mais de 200.000 pessoas (173.830 segundo dados da FIFA) se espremem no Maracanã, todos absolutamente convencidos de uma grande exibição brasileira, muitos com a festa já preparada. Em todo o Brasil, onde hou vesse rádio ligado, o jogo estava sendo acompanhado, além dos serviços de alto-falantes instalados em muitas cidades do interior, onde os rádios eram escassos. Quando o time entra completo, muitos choram de felicidade, balançando suas bandeirinhas. O título tão esperado estava a caminho, pois, afinal de contas, um empate, um simples empate, traria para o Brasil o tão sonhado título de Campeão do Mundo. Não tinha como não dar certo.
No primeiro tempo nada acontece e a peleja termina empatada. A cautela de todos, os passes curtos e laterais por parte dos brasileiros começam a irritar a torcida, que queria um time ofensivo e guerreiro. Mas os uruguaios fazem uma marcação cerrada, além de contar com uma ótima atuação do goleiro Máspoli. Quando o juiz apita o fim do primeiro tempo, a massa se olha em clima de desconforto. Com desconforto, mas, ainda, confiando plenamente no timaço do Brasil.
Vem o segundo tempo; e quando, logo no início da partida (aos 2 minutos), Jair da Rosa Pinto dá um passe sob medida para o craque Friaça, que balança a rede adversária sem apelação, o Maracanã treme. Era a vitória.
.
O povão, radiante, já se dirige para as ruas para a festança de comemoração do inédito título. Vai daí que, então, se agiganta em campo o uruguaio Obdúlio Varela, gritando o tempo todo, ameaçando os jogadores e entran
do duro em todas as jogadas. O time brasileiro começa a ficar nervoso, principalmente a zaga. E quando os perplexos jogadores brasileiros viram-no esbofetear o ponteiro Gigghia, por ter pipocado diante de Bigode, mais nervosos ainda ficam.
Repentinamente, começa o desastre: aos 21 minutos, enredando Bigode na linha de fundo, Gigghia cruza, e o meio-esquerda uruguaio Schiaffino toca de leve para as redes. É o empate tão temido. O Maracanã emudece; cessam os ruídos e as risadas. Na verdade, muitos nem viram o gol de empate do Uruguai, já comemorando a conquista brasileira. Porém, de qualquer maneira, o empate ainda era bom para o Brasil, apesar de a torcida verificar que o descontrole e nervosismo de seu time eram visíveis.
Final da Copa do Mundo de 1950 - Uruguay 2 X 1 Brasil.
Final da Copa do Mundo de 1950 - Uruguay 2 X 1 Brasil.
Depois, tentaram culpar o goleiro Barbosa, que carregaria por toda sua vida o peso do pesadelo. Disseram até que tudo acontecera por ele ser negr
o. Mas a defesa toda estava como que enfeitiçada diante dos berros de Obdúlio e pela performance de Gigghia. Aos 32 minutos do segundo tempo, em uma jogada pela lateral, Bigode, descontrolado, não consegue desarmar o impetuoso ponteiro uruguaio, que corre para a área e se prepara para o cruzamento. Juvenal sai para a cobertura de Bigode, enquanto Barbosa se precipita para interceptar a bola. Neste momento, aparece aos olhos de Gigghia um espaço entre Barbosa e a trave. O uruguaio, então, ao invés de cruzar, chuta em direção àquele buraco, pegando Barbosa no contrapé. Mais tarde, também se disse que o goleiro brasileiro ainda tocara na bola, pensando mesmo que houvera um escanteio. Porém, antes mesmo de se levantar, nota as comemorações da equipe adversária e o pesado silêncio que se abate sobre o Maracanã.

Repentinamente, começa o desastre: aos 21 minutos, enredando Bigode na linha de fundo, Gigghia cruza, e o meio-esquerda uruguaio Schiaffino toca de leve para as redes. É o empate tão temido. O Maracanã emudece; cessam os ruídos e as risadas. Na verdade, muitos nem viram o gol de empate do Uruguai, já comemorando a conquista brasileira. Porém, de qualquer maneira, o empate ainda era bom para o Brasil, apesar de a torcida verificar que o descontrole e nervosismo de seu time eram visíveis.
Final da Copa do Mundo de 1950 - Uruguay 2 X 1 Brasil.
Final da Copa do Mundo de 1950 - Uruguay 2 X 1 Brasil.
Depois, tentaram culpar o goleiro Barbosa, que carregaria por toda sua vida o peso do pesadelo. Disseram até que tudo acontecera por ele ser negr

O silêncio no Maracanã repercute no Brasil inteiro. Ninguém acredita no que está acontecendo. Um misto de surpresa e incredulidade se estampa nos mais de 400.000 olhos presentes no estádio. O choro já começara em muitos rostos, apesar de a partida ainda não estar perdida. Mas estava. Daí p’ra frente, mais nada acontece. O Brasil atacava, e Máspoli, que acabou sendo escolhido o melhor goleiro da copa de 50, defendia. A tão decantada bravura uruguaia estava plena e absoluta perante a massa emudecida.
Quando do apito final, um choro coletivo ecoa por todo o Brasil, no Maracanã, e no vestiário brasileiro. Choro de tristeza dos brasileiros; de alegria, dos uruguaios. Foi o fim de uma geração de craques, e para a copa de 1954 somente foram lembrados Bauer e Baltazar.
O sonho de tão almejada conquista ainda teria de esperar por mais longos oito anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário