Recuperar-se do fracasso, vexame mesmo, da Copa de 1954: essa era a missão sagrada da seleção brasileira para a atual Copa. A humilhação de ter sido eliminada, naquele ano, ainda nas quartas-
de-final, pela máquina húngara, por 4 x 2, ainda estava na memória de todos os brasileiros, muitos temendo a repetição do fato, principalmente quando se soube que o time brasileiro caíra na chave onde se encontravam as seleções mais fortes da competição, principalmente a União Soviética e a Inglaterra. De qualquer forma, a situação não era desesperadora, porquanto, nessa Copa de 1958, ao contrário do que acontecera nas duas últimas anteriores (em 1950, o Brasil e em 1954, a Hungria), efetivamente, não havia uma seleção considerada absolutamente favorita, tudo podendo acontecer. Assim, caberia ao Brasil confiar em seus jogadores e enfrentar de igual para igual seus adversários.
O temor da torcida brasileira se justificava pelo fraco desempenho que a seleção brasileira alcançara quando de uma excursão à Europa, em 1956, à guisa de preparação para a copa da Suécia, a primeira em que uma comissão técnica observaria, de forma a mais objetiva possível, o comportamento profissional e emocional dos jogadores. Segundo o jornalista João Máximo (Cadernos de História, jornal O Globo, 2000, p. 490-491), relatório produzido por essa comissão chegou à seguinte constatação com conotações racistas:

O temor da torcida brasileira se justificava pelo fraco desempenho que a seleção brasileira alcançara quando de uma excursão à Europa, em 1956, à guisa de preparação para a copa da Suécia, a primeira em que uma comissão técnica observaria, de forma a mais objetiva possível, o comportamento profissional e emocional dos jogadores. Segundo o jornalista João Máximo (Cadernos de História, jornal O Globo, 2000, p. 490-491), relatório produzido por essa comissão chegou à seguinte constatação com conotações racistas:
“O jogador brasileiro era imaturo, emocionalmente vulnerável, inseguro. Numa palavra, ‘amarelava’. O relatório apontava, eufemisticamente, para certas características raciais que nos faziam sofrer mais que um anglo-saxão, um gaulês, um nórdico ou um tedesco, terríves saudades de casa, a nostalgia profunda, o banzo. Não foi por outro motivo que a seleção brasileira estreou em Gotemburgo com um time tão branco quanto possível”.
A estréia da seleção (08.04.1956) até que foi razoável; sob o comando de Flávio Costa (até então técnico do Vasco da Gama), colocando em campo os jog





O teste definitivo viria logo a seguir, no último jogo da seleção brasileira: enfrentar a fortíssima equipe da Inglaterra, em um jogo que marcaria a des

Após a volta, houve uma procura intensa para um técnico definitivo para a seleção brasileira. Flávio Costa era uma carta definitivamente fora do baralho. A princípio, pensava-se que Osvaldo Brandão seria efetivado como o técnico da seleção. Entretanto, em virtude das derrotas sofridas pelo Brasil frente ao Uruguai por 3 x 2 e frente à Argentina por 3 x 0 no Campeonato Sul-Americano, suas pretensões foram sepultadas. Falava-se também em Fleitas Solich, técnico do Flamengo, tri-campeão nos anos de 1953, 1954 e 1955, em Martim Francisco, técnico do Vasco da Gama (famoso por ter adotado a técnica inovadora 4-2-4 no futebol brasileiro) e Zezé Moreira que, comentou-se, convidado, não aceitou o cargo, talvez traumatizado pela horrível experiência de 54.


Até que João Havelange, no início de 1958, toma posse da Confederação Brasileira de Desportos. Logo nas primeiras semanas após assumir, o “Cartola” saiu em busca de um nome definitivo para comandar a seleção. Apesar das aparências, não estava se mostrando fácil a escolha

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Paulo Machado, contando também com o auxíllio de Flávio Iazetti, Paulo Buarque e Art Silva, na realidade, já apresentara, ainda em 1957, seu plano à antiga diretoria CBD, então enc
abeçada por Sílvio Pacheco, sem muito sucesso. Somente com a posse de João Havelange, mais novo e com idéias de modernizar a estrutura da CDB, o plano foi assumido. A referida Comissão, de que fazia parte o próprio Paulo Machado, Carlos Nascimento, o Médico Hilton Gosling e José de Almeida, logo escolhem o nome do técnico: seria Vicente Feola, até então técnico do São Paulo. A essa altura já um veterano técnico (tinha 49 anos, com aparência de 60), Feola granjeara a fama de ser um treinador razoavelmente competente, educado e amigo de seus jogadores. As principais restrições a ele partiam da imprensa carioca, que não o viam como um técnico competente, cujo principal currículo fora o de auxiliar de Flávio Costa na malfadada Copa de 1950.

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Na segunda partida, as deficiências da seleção brasileira ficaram mais evidentes. O jogo, dessa feita, ocorrido no estádio do Pacaembu, foi bem mais difícil; usando o mesmo time anterior, contando também com a entrada de meia Moacir, do Flamengo, e de Canhoteiro, o resultado não saiu do 0 x 0, despertando comentários desairosos por parte da imprensa desportiva.
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Como todo mundo no Brasil é meio técnico de futebol, muitos cronistas esportivos criticaram a convocação, especialmente a não convocação de Almir, o "enfant-


Antes, porém, da convocação definitiva, nas preparatórias, a seleção brasileira fez alguns amistosos; o primeiro jogo, contra a Bulgár

Outro amistoso ainda seria disputado no Brasil (21.05.1958), dessa feita contra o Corínthians. Realizado no estádio do Pacaembu, entrando em cam

O primeiro desses amistosos foi contra o time italiano da Fiorentina, em 29 de maio, no estádio Comunale, localizado na aprazível cidade de Firenze.

Os dois bons resultados, contudo, não foram suficiente para que a equipe brasileira fosse definida; Feola, aborrecido com a atuação de Garrincha frente à Fiorentina, muito individualista para o gosto da Comissão Técnica (ficou famoso seu gol contra essa equipe, em que, após driblar todo mundo, finta o goleiro italiano, espera a chegada do zagueiro adversário, e só aí faz seu gol), foi barrado, Joel, do Flamengo, sendo considerado, a partir daí, titular da seleção. Garrincha nem entrou em campo contra a Inter de Milão.
No dia 08 de junho de 1958, o Brasil todo parado e em transe, a seleção brasileira entra em campo para iniciar sua participação oficial na Copa do Mundo da Suécia, país escolhido porque, assim como o país sede anterior – a Suiça –, por ter se mantido neutro durante a segunda Guerra Mundial, não necessitava

A forte seleção da Inglaterra seria a adversária seguinte. Em 11.06.1958, com a mesma formação, à exceção da entrada de Vavá no lugar de Dida
E para piorar as coisas, o próximo adversário seria a seleção da União Soviética. Comentava-se que o time russo, (comentários esses, obviamente oriundos da Guerra Fria), era formado por jogadores robotizados, fruto de técnicas desenvolvidas n
Foi uma exibição de gala da seleção brasileira, deixando atônitos os torcedores presentes no estádio Nya Ullevi, localizado na cidade de Gotemburgo. A desenvoltura da nova seleção, a harmonia que demonstrava, o desempenho de todo a seleção, deixa
Brasil 2 X 0 União Soviética.
Brasil 1 X 0 País de Gales.
A França vinha com uma forte seleção para essa Copa do Mundo. Para se ter uma idéia de seu potencial, ela terminaria o certame em terceiro lugar, com o ataque mais positivo e c
Brasil 5 X 2 França.
Finalmente chegou o dia da decisão. Seria contra a dona da casa, a Suécia, que chegara, com méritos, a essa decisão, classificando-se para as quarta de final ganhando do México por 3 x 1, da Hungria por 2 x 1 e empatando com o País de Gales por 0 x 0. Nas quarta-de-final, classificou-se para as semifinais, ao ganhar da União Soviética pelo placar de 2 x 0. E para confirmar o melhor momento de seu futebol, abateu o sempre forte time da Alemanha Ocidental por 3 x 1, uma façanha que deixou os torcedores suecos em êxtase, pois, nem em seus melhores sonhos, eles esperavam que o time chegasse às finais de uma Copa do Mundo.
Era um domingo, o dia, 29 de junho de 1958, a hora, 10h45m, horário do Brasil. As chuvas que
Brasil 5 X 2 Suécia.
Coube a Vavá o primeiro lance, tocando para Pelé. O nervosismo era geral de ambas as partes, com um começo de partida em que os adversários se estudavam. Mestre Didi foi o primeiro a testar as habilidades do goleiro Svensson, sem sucesso. Só que, com apenas 4 minutos de partida, o atacante Liedholm avança, dribla a dupla de área vascaína, Bellini e Orlando, e lança seu petardo. Gilmar nada pôde fazer. A Suécia abria o placar para delírio de sua enorme torcida que lotava o estádio.
De qualquer forma, o gol adversário não intimidou a seleção brasileira. Garrincha, demonstrando estar em boa forma, obriga o goleiro sueco a executar, logo a seguir, boa intervenção. Aos sete minutos, Pelé quase marca, ao receber precioso passe de Zagalo, escorregando no momento crucial. Nesse momento, o time brasileiro já demonstrava personalidade e partia com determinação contra a zaga sueca, que se defendia, jogando a bola para escanteio. Na primeira vez, Garrincha desperdiçou a oportunidade. N
Brasil 5 X 2 Suécia (completo).
A defes
a brasileira, nesse ínterim, atuava de forma perfeita, com dest
aque para a dupla Bellini e Orlando, que impedia todos os avanços dos atacantes suecos, a essa altura tentando utilizar jogadas aéreas cruzadas para a área, e para Nílton Santos, um gigante na defesa, que não se furtava em utilizar jogadas duras nos momentos mais difíceis, deixando receoso o ataque inimigo.


Aos 28m, o time sueco teve sua melhor chance até então na partida; em um cruzamento, Gilmar foi batido e a bola estava entrando quando Zagalo, providencialment
e, chega e consegue desviar a bola do gol brasileiro. Esse lance pareceu a senha para a seleção se posicionar de forma mais concatenada e, passados poucos minutos, Garrincha, em jogada infernal, dribla o primeiro de seus marcadores, dribla o segundo e, da linha de fundo do lado direito, cruza de forma perfeita para a grande área e encontra o artilheiro Vavá. O goleiro Svensson ainda tenta salvar sua equipe pulando como gato nos pés do atacante brasileiro. Muito tarde, porém. Era o desempate da partida. O Brasil chegava ao fim do primeiro tempo com o placar de 2 x 1 a seu favor.
O Brasil entra em campo para o segundo tempo de forma desinibida e apaixonada. A equipe se mostrava perfeita, tanto no ataque quanto na defesa. Parecia atuar por música. Até que, aos nove minutos, aconteceu o momento da consagração definitiva de Pelé; o jogador recebe um belo passe de costas para o gol da Suécia. O zagueiro Gustavsson corre para tentar anular o lance e, para sua surpresa, Pelé, que matara a bola no peito, aplica-lhe o famoso “lençol”, e, antes que a bola caísse no chão, de sem-pulo, atira para o gol adversário. Um gol espantoso pela beleza, o mais perfeito dessa Copa do Mundo. Desse momento em diante, a Suécia se curvava, definitivamente, diante da seleção brasileira, que exibia um futebol de gala, deslumbrando os torcedores suecos, que então já aplaudiam o desempenho dos jogadores brasileiros
Gol de Pelé contra a Suécia que entrou para a História.
Na realidade, o que surpreendia os suecos era a desenvoltura de todo o time brasileiro. Não havia posicionamento rígido de nenhum jogador da linha de ataque
, Garrincha podendo aparecer de repente na área, enquanto Pelé caía para a ponta esquerda. No meio de campo Didi dava as cartas, impressionando meio mundo por sua classe em campo. Diante de tal atuação, novo gol era esperado a qualquer momento. E foi o que aconteceu. Aos vinte minutos, o ponta-esquerda Zagalo, de repente, aparece na área sueca, a bola em seus pés; ginga diante de seu marcador e, novamente, na saída do goleiro Svensson, os dois disputando a bola, atira inapelavelmente para o gol, mesmo caído na pequena área. Era o quarto gol. O sonho de ganhar a primeira Copa do Mundo para o Brasil, uma possibilidade mais que real. Por aqui, a festa já começara. Na cabeça dos torcedores, não tinha mais jeito. A seleção brasileira já era a campeã.
Apesar do show brasileiro, o time sueco não estava morto. Aos 34 minutos, recebendo um passe em impedimento, o atacante Simonsson não titubeia, vence Gilmar que tentava cortar a jogada, e marca o segundo gol da seleção da Suécia. Os jogadores reclamaram, o bandeirinha deu impedimento, mas, o juiz confirmou o gol, ficando a partida em 4 x 2 para o Brasil.
A seleção brasileira, então, começou a esfriar a partida, esperando o final
. Era a hora das exibições individuais. Todos brilhavam em campo, somente esperando o apito do juiz encerrando a partida. Quando tudo parecia acertado, o foguetório e o carnaval fora de época tomando conta de todo o Brasil, aos 45 minutos e 30 segundos (ou 30 segundos para o encerramento da partida), Zagalo centra para a área e encontra Pelé desmarcado. O novo gênio do futebol mundial acerta uma cabeçada certeira e aumenta o placar para 5 x 2. Não dava tempo para mais nada. O juiz encerra a partida. O Brasil é o campeão da Copa do Mundo de 1958.
Não demorou e começava a deificação da seleção brasileira. A eficiência do time, a noção de conjunto e a arte de jogar demonstrada por todos, foram o assunto de toda a crônica esportiva mundial. Pelé foi eleito a revelação do torneio, iniciando sua escalada para se tornar o rei do futebol mundial. Na seleção da Copa daquele ano, com recorde de países inscritos (53 países, 46 efetivamente participando), só não entraram os jogadores Zagalo
, Orlando e Zito, demonstrando a superioridade da seleção canarinho. Uma das imagens que ficaram imortalizadas nessa Copa foi a do Capitão Bellini erguendo triunfalmente a taça Jules Rimet, em um gesto nunca feito antes e que se repetiria por todos a partir daí. Outra, a do garoto Pelé, chorando, sendo afagado por Gilmar, seu companheiro mais experiente.A chegada ao Brasil foi tumultuada e gloriosa. Uma apoteose. Desfilaram em carro aberto, foram recebidos com pompas pelo presidente Juscelino Kubitschek e os jogadores se tornaram ídolos tais como os astros do cinema e da televisão. Falava-se, inclusive, que o capitão Bellini, com pinta de galã, tinha sido sondado para ser astro em Hollywood. Mazola e Dino Sani já estavam contratados para atuarem na Europa. O Brasil, por sua conquista se tornara assunto mundial.
Garrinha, Alegria do Povo.
E Mané Garrincha? Ao chegar, sob festas e fogos de artifício, conquistara Angelita Martinez, uma das vedetes mais lindas (e ambiciosas) do Brasil, ex-mulher do cantor Chucho Martinez, ex-amante do craque flamenguista Pavão e, comenta-se, até de Jango Goulart, que, para a glória do ponta-direita brasileiro, gravaria para o carnaval do ano seguinte, a marchinha Mané Garrincha, letra do mestre Wilson Batista, cheia de duplos sentidos, uma das mais cantadas e executadas em todo o país. Sobre as repercussões desta música, o leitor terá que esperar mais um pouco. Até 1959.
Gol de Pelé contra a Suécia que entrou para a História.
Na realidade, o que surpreendia os suecos era a desenvoltura de todo o time brasileiro. Não havia posicionamento rígido de nenhum jogador da linha de ataque

Apesar do show brasileiro, o time sueco não estava morto. Aos 34 minutos, recebendo um passe em impedimento, o atacante Simonsson não titubeia, vence Gilmar que tentava cortar a jogada, e marca o segundo gol da seleção da Suécia. Os jogadores reclamaram, o bandeirinha deu impedimento, mas, o juiz confirmou o gol, ficando a partida em 4 x 2 para o Brasil.
A seleção brasileira, então, começou a esfriar a partida, esperando o final

Garrinha, Alegria do Povo.
Realmente foi muito bom o texto, mas gostaria de saber o nome do juiz.
ResponderExcluirMuito bom o texto e está de parabéns o Blog. Gostaria de saber a escalação do time da final e numeração de cada um. Pois estou querendo fazer um time de futebol de mesa desse Brasil 58
ResponderExcluirMeu e-mail: mktpequeno@hotmail.com
Bela narrativa. Fica só a observação de que a primeira final do Brasil em Copas do Mundo foi a perdida no Maracanã contra o Uruguai e no texto consta que após a vitória sobre a França seria a 1ªvez que a nossa seleção chegaria a uma final. Só um detalhe.
ResponderExcluirTrilha sonoroa maravilhosa.
Viva a história maravilhosa do nosso futebol!!!Obrigado!!!
Prezado Rubem,
ResponderExcluirObrigado pela atenção. Sua correção já foi postada.
Qualquer outra coisa, favor me informar, pelo qual já lhe agradeço.
Zé Fialho
ótimas informações mas eu queria saber quais foram os times que jogaram contra o Brasil e as músicas da torcida
ResponderExcluirmanu o texto é bom
ResponderExcluirmais quantas copas tem ai?
depois vc responde aew
Achei ótimo o texto os vídeos e acho uma boa idéia mostrar a escalação e a numeração de cada um dos jogadores!!!
ResponderExcluirMas esta perfeito tudo oque li e tudo oque assisti!!!
!!!OBRIGADA!!!
Gostaria de saber o nome e o autor da musica na copa de 1958 que contem os nomes dos jogadores que atuaram na época? Gilmar, de Sordi e Bellini e logo a seguir falava sobre balançara a roseira. O brigado.
ResponderExcluirQuero o nome da música que relata a escalação do Brasil na copa de 1958. Andre e-mail andrerj88@oi.cm.br
ResponderExcluirÓtimo post... muito informativo. Parabéns!
ResponderExcluirMas creio que você tenha esquecido de mencionar pelo menos 2 ou 3 nomes importantes dessa lista de "injustiçados" da Copa de 58.
Luizinho, do Corinthians; Julinho Botelho, que estava na Fiorentina; e até o Larry (do Internacional) talvez entraria, não?
Parabéns pelo blog zé.... Show de bola....
ResponderExcluirComo nasci no final da decada de 70 aqui tem boas historias...
qt ao Arbitro da final que o amigo abaixo perguntou... O árbitro francês Maurice Guigue, que comandou a final da Copa do Mundo de 1958 entre Suécia x Brasil